quinta-feira, 19 de abril de 2018

ABRIL NA CIDADE


Quando leio os elogios à beleza da nossa Biblioteca Joanina lembro-me da afirmação de que a genialidade é cara e da afirmação de D. H. Lawrence de que toda a cultura é construída a partir do “esterco do dinheiro”.

Não dispondo do ouro do Brasil para obras geniais, mas sendo público que a Câmara tem uma boa saúde financeira e disponibilidades de investimento, penso que é legitimo esperar que a Cultura seja colocada como uma prioridade central da política autárquica.

Por outro lado, há uma “cultura urbana”, com um sentido de elementar utilidade, que de igual modo deverá merecer uma particular atenção e que radica na genialidade da realização de pequenas/grandes intervenções na cidade, para melhoria da sua imagem e da qualidade de vida dos seus cidadãos.

Quem não desejaria ver as entradas da cidade limpas, bonitas, floridas, bem arranjadas? São as portas da nossa casa, que num primeiro momento nos qualificam aos olhos de quem nos visita, e que dispõem bem quem aqui trabalha e por elas entra diariamente.

Quem não desejaria ver uma boa sinalização do caminho para os seus monumentos, jardins, estabelecimentos de ensino e saúde, hotéis, locais de estacionamento, etc.?

Quem não desejaria ver boas e cuidadas infraestruturas e encantar-se com uma cidade com arte urbana de qualidade e uma limpeza impecável?

Quem não desejaria encontrar mais e mais inovadores parques infantis, de que os mais pequenos pudessem usufruir no inverno e durante os tórridos dias de verão – há tantas e interessantes soluções de cobertura -, e espaços para desporto informal, para mais numa cidade universitária?

E locais propícios ao convívio dos seniores - os maiores, na terminologia dos nosso vizinhos espanhóis -, quem não os desejaria?

E poderíamos continuar com estes desejos, que são realidade nas mais diversas cidades por essa Europa fora. Aliás, seria útil e interessante que autarcas e dirigentes municipais fosse “obrigados” a visitas de trabalho a cidades europeias, para verem e conhecerem soluções adotadas e testadas.

Mais do que grandes obras, que, aliás, têm sido motivo de grande frustração coletiva, percebe-se o desejo de uma urgente e minuciosa atenção para com a cidade. Monumentos e história de há muito que existem.

Porque é primavera e estamos em abril, cuja dia 17 não terá sido devidamente lembrado, será o tempo ideal para olharmos amorosamente a nossa cidade e a cuidarmos como merece e precisa.

E, não esquecer, que abril, para além de liberdade e democracia, é também sinónimo de cultura.







quinta-feira, 5 de abril de 2018

É PRECISO ABRIR JANELAS


O Diário de Coimbra publicou, no passado dia 2, uma interessante e importante entrevista ao professor João Caraça, presidente do Conselho Geral da Universidade de Coimbra.

Não sei que consideração terá tido no meio académico e também não me apercebi de reações futricas, apesar de haver referências a aspetos que vão para além das portas da Universidade e que têm a ver com a cidade. É possível que seja um silêncio conivente, mas mesmo que assim seja é importante valorizar as ideias apresentadas por que vêm de fora. Vêm de alguém de reconhecido mérito académico, que tem mundo e não é daqui.

Há duas afirmações que gostaria de sublinhar. A primeira é a de que: “Nota-se que Coimbra não teve trajetória de alargamento e reforço das infraestruturas que permita à UC ser mola de desenvolvimento.” Não podia estar mais de acordo. A expansão e o desenvolvimento das infraestruturas urbanas, por exemplo, na envolvente dos Polos II e III são um verdadeiro desastre e mereciam uma atenção cuidada e urgente, sem falar de todo um outro conjunto de intervenções que permitissem um salto qualitativo na construção de uma cidade universitária do século XXI.

Aliás, a questão da localização da nova maternidade é um exemplo acabado da forma de, ainda hoje, fazer Coimbra.

A segunda afirmação é a que se refere à eleição do novo reitor, concretamente ao perfil e, sobretudo, quando diz: “Penso que não terá de ser necessariamente uma pessoa de dentro da UC:” Ora, não sendo uma ideia revolucionária a acontecer na UC representará, decerto, uma verdadeira revolução.

Não estando em causa o mérito nem a capacidade de encontrar um reitor no âmbito da própria UC, como aliás tem vindo a acontecer, a verdade é que a vinda de alguém de fora para uma universidade com estas caraterísticas seria extremamente interessante não só para a universidade como para a própria cidade.

Em Coimbra vem-se vivendo, cada vez mais acentuadamente, um certo ambiente claustrofóbico. Sente-se aqui a necessidade de abertura e de arejamento e se há áreas em que é evidente que isso não se vê possível a curto e médio prazo, a vinda de alguém de fora para a reitoria da universidade poderia contribuir significativamente para essa oxigenação.

Diz, o professor, João Caraça, sobre o perfil do novo reitor: “Terá, portanto, de ser ser uma pessoa com grande capacidade de liderança, uma clara visão de futuro e uma capacidade de dialogar, a toda a linha, muito grande. Será fundamental falar com pessoas de fora da universidade e de dentro da universidade.”

Venha ele!