Se bem me lembro, nas últimas décadas, o grande consenso para a realização de uma obra pública em Coimbra foi a construção de uma escada para peixes no Açude-Ponte.
Foi
bom de ver a unidade político-partidária na defesa das lampreias do
Mondego e na criação de condições à sua adequada desova, o que
diga-se foi muito mais fácil do que é
agora encontrar
um consenso e uma defesa articulada para
a construção de uma nova maternidade.
Para
mais a obra, contrariamente ao que é habitual por aqui, não
levantou problemas nem suscitou criticas dignas de reparo e até o
facto da monitorização do equipamento estar a cargo de uma equipa
da Universidade de Évora não
foi
motivo de contestação.
Vem
esta memória a propósito da necessidade de encontrar um consenso
político alargado sobre as grandes obras públicas a considerar após
o Portugal 2020, tal como o governo vem repetidamente sublinhando. É
óbvio que um entendimento sobre investimentos públicos
estruturantes implica um entendimento sobre o país que queremos ser.
Assim,
se continuarmos a promover uma solução bipolar, em que Lisboa e
Porto são os dois grandes centros urbanos, determinantes a nível
económico e político, então não merece a pena estarmo-nos a
preocupar. Contudo,
se entendermos que há algo mais a fazer e que o Centro não é uma
periferia
de Lisboa ou um
arrabalde
do Porto, e
que há uma realidade física, cultural, social e económica,
que precisa de ser decisivamente considerada e valorizada, então
este é o momento de expressar um pensamento a este respeito e de
unir esforços no sentido da sua aceitação.
Nas
últimas eleições autárquicas o grande tema – controverso mas
que tudo indica rendeu votos – foi o da transformação do
aeródromo Bissaya Barreto numa aeroporto comercial. Ora um aeroporto
comercial em Coimbra só será viável e só
terá
os necessários apoios financeiros numa perspetiva regional. Há um
óbvio
problema de escala, de massa critica, que
suplanta uma proclamação política.
As
empresas
que
funcionam, cada
vez mais,
a uma velocidade estonteante considerarão sempre o tempo que os seus
gestores, técnicos e
clientes levam
em deslocações e por isso a existência de um aeroporto é
uma
condição de fixação e de investimento num determinado território.
Os próprios empresários locais e das cidades e territórios
vizinhos de Coimbra, que sentem as agruras de
demorarem mais tempo nas deslocações à capital do país do que a
Bruxelas, são
decerto
sensíveis a esta questão.
Coimbra,
está por isso, perante o desafio urgente de demonstrar,
apesar de uma ancestral competição localista, que é capaz
de unir
esforços e obter
o acordo e o empenho de uma região - das cidades e das comunidades
vizinhas e dos seus
agentes
económicos - para
levar
à prática a sua
proposta política-eleitoral
de transformação do aeródromo Bissaya Barreto num aeroporto
comercial. É agora ou nunca!
O
que a experiência demonstrou, é que não haveria dificuldades se as
lampreias voassem.
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