Nas
andanças que vou fazendo encontro sempre motivos de reflexão e
sentimentos muitas vezes contraditórios relativamente à minha
Coimbra. Da satisfação de nela viver e de aqui ver crescer a minha
família a uma certa tristeza por a ver desnecessariamente
ultrapassada vai um pequeno passo.
Sei,
por experiência própria, que não é fácil realizarmos muitos dos
sonhos cívicos, mas também sei que é possível dar passos
significativos no sentido de a tornar mais acolhedora e vibrante.
Talvez que o método a adotar seja o de caminhar com pequenos passos,
consentâneos com uma realidade especifica e tendo em conta não
estragar o existente, incorporando o que de melhor se vai concebendo
e fazendo por esse mundo fora.
O
que me parece essencial, para mais neste tempo de “invasão”
turística, é a necessidade de identificação das nossas
especificidades e das nossas diferenças, e depois entende-las,
trabalhá-las e valorizá-las.
Nenhum
turista virá a Coimbra para comer um hambúrguer de uma cadeia
internacional de fast-food, que existe igual e com o mesmo sabor em
todo o lado, ou comprar vestuário numa grande superfície em que as
peças são exatamente as mesmas por esse mundo fora. Mas, haverá
muito quem venha se souber que existem restaurantes tradicionais com
gastronomia única, onde se pode saborear um tradicional prato de
ossos de sabor especial, ou comprar roupas ou têxteis dependurados
nas lojas das ruas estreitas da Baixinha.
Vários
exemplos como estes podem ser encontrados e urge que pensemos
coletivamente no assunto, porque somos todos parte da solução. Um,
que não me canso de repetir, tem a ver com a música, onde Coimbra
tem uma enorme tradição. Há aqui uma orquestra clássica, imensos
coros, muitos grupos folclóricos, vários grupos de diferentes
expressões musicais, melómanos competentes, etc., e uma coisa única
(cá está a especificidade) o Fado de Coimbra.
A
Música que neste país tem sido, em termos museológicos,
vergonhosamente mal-tratada, devía-nos merecer particular atenção.
O Museu Nacional da Música está instalado provisoriamente, mas há
vários anos, numa estação do Metropolitano de Lisboa. Por isso
parece-me, sublinho parece-me, que seria uma mais valia para Coimbra
a instalação de um Museu da Música, que se poderia chamar Carlos
Seixas (o nome de um músico de Coimbra, com peso institucional) e
que incorporaria tudo aquilo que um museu comporta e também áreas
cientificas sobre o som, a voz, etc., sem esquecer o valioso espólio
musical existente na Universidade de Coimbra. Seria um projeto de
parceria da Cidade e da Universidade de dimensão nacional que
atrairia nacionais e estrangeiros.
Para
começar a ganhar balanço o projeto poderia começar com uma
candidatura à UNESCO de Coimbra como Cidade da Música, no âmbito
de das Cidades Criativas. Recorde-se que ainda há relativamente
pouco tempo a Universidade homenageou o Professor Rui Vieira Nery,
conceituado musicólogo, que teve um papel determinante na aprovação
do Fado como Património Imaterial da Humanidade, e que poderia ser
solicitado a colaborar no processo.
Outro,
que me parece merecer consideração tem a ver com o Jardim Botânico,
de que só existem três no país: Lisboa, Porto, e Coimbra, que é o
segundo mais antigo. É um jardim que, apesar de todas as
dificuldades, teve sempre as portas abertas à cidade - de que é um
pulmões -, e que tem vindo a fazer um enorme esforço de renovação,
como aconteceu com a recente intervenção nas estufas. É um exemplo
perfeito dessa parceria vital: Universidade/Cidade, que merece um
apoio institucional forte, de modo a tornar-se um espaço de
atratividade e visita incontornável.
Fica
o desafio de que cada um agarre em papel e lápis e comece a
descobrir diferenças que nos possam dar mais futuro.