quinta-feira, 30 de novembro de 2017

A REINVENÇÃO DE COIMBRA

Depois de um intensa campanha eleitoral para as autárquicas, que, aqui em Coimbra, gerou variadas expectativas pelo aparecimento de novos protagonistas em candidaturas independentes e porque, em consequência, o quadro político a nível do Município acabou por sofrer alterações, é legitimo perceber o que mudou ou está em mudança.

Será, porventura, muito cedo para se perceber o que verdadeiramente vai acontecer, o tempo ainda é de aprendizagem e de ajustamento e, em aspetos mais concretos, só com a a discussão e aprovação do orçamento para o próximo ano se perceberão os equilíbrios e as intenções das diversas forças políticas e dos novos protagonistas.

Uma questão que sempre se coloca é a de ver até que ponto candidaturas autárquicas independentes não são mais do que expressões de ambições de poder pessoal e/ou de necessidade de satisfação de egos que foram sendo cultivados e adubados em diferentes campos de batalha.

Se a capacidade de Coimbra para gerar novos e qualificados políticos, tão necessários ao governo da cidade, é por vezes questionada o problema maior é conseguir que essa nova geração se interesse pela vida autárquica e não viva o sonho, que tantos estragos tem provocado, de emigração para o eldorado político que é a capital.

Há um capital humano nesta área que tem sido esbanjado, em muitos casos porque a cidade é difícil e desmotivadora e também porque a nível partidário há dificuldades de renovação, fazendo questão de valorizar mais em momentos eleitorais figuras ditas “independentes” do que jovens quadros que necessitam de projeção e tarimba.

Não sei se o atual mandato autárquico irá trazer novidades positivas decorrentes do desenho do quadro político autárquico saído das recentes eleições. Por mim não tenho expectativas de alterações substancias em relação ao passado recente, parecendo-me que uma sentida necessidade de reinvenção de Coimbra implicará, isso sim, que os partidos e forças políticas locais trabalhem mais afincadamente na renovação e preparação de uma nova geração de autarcas que é inevitável ter de surgir no próximo mandato.

O futuro da cidade vai jogar-se sobretudo fora da gestão corrente da Praça 8 de Maio, porque a preocupante percentagem de abstenção e a necessidade de respostas inovadoras, que muitas cidades por essa Europa fora vão desenhando e aplicando, vão obrigar(!) à adoção de novas políticas e também ao aparecimento de novos protagonistas. É inevitável e o tempo corre célere.

A palavra de ordem só pode ser uma: preparar a reinvenção de Coimbra!

(Artigo publicado na edição de 30 de novembro do Diário de Coimbra)








terça-feira, 21 de novembro de 2017

UM HIPOPÓTAMO NO MONDEGO

Se não vivesse em Coimbra estou certo de que gostava de lhe fazer uma visita.

É sabido que os visitantes têm sempre um olhar diferente dos habitantes e por isso eu veria uma outra cidade. Seria uma visão mais superficial e idílica mas também mais atenta a certos pormenores que se esbatem do olhar pela habituação.

Por isso se tentar ser turista na minha terra vou ter de fazer um enorme esforço e quase de certeza que não conseguirei um olhar puro sem as cataratas do quotidiano. Lembro-me, a propósito da dificuldade em olharmos e vermos aquilo que está perto de nós, traduzido na surpreendente pergunta que o professor Nogueira Gonçalves fazia nas suas aulas de História da Arte: “Sabem de que cor são os olhos dos vossos pais e/ou irmãos?”, e que deixavam a maioria sem resposta.

Pois é, se eu viesse visitar uma Coimbra desconhecida e tivesse um bocadinho de mundo, bastava um bocadinho de Europa, era natural que me intrigasse, logo à chegada, por ver uma cidade tão cantada pela sua beleza, riqueza monumental e histórica, e uma tão vasta gama de serviços, e não encontrasse aquilo que normalmente procuramos ter na nossa casa: uma entrada cuidada e bonita.

A primeira impressão de quem chega é de uma cidade pouco alindada e também de uma cidade com uma exígua sinalética, seja relativa aos seus monumentos, espaços históricos, localização de serviços, hotéis, parques de estacionamento, etc.

É verdade que a sinalização vertical nas cidades é uma praga, mas também é verdade que nem todos têm GPS e por isso há quem desespere pelas voltas e voltinhas que tem de dar para chegar ao local pretendido e a partir daí deixe de exaltar a beleza da cidade e comece a praguejar com as dificuldades do encontro.

Depois, também acabaria por lamentar o mau estado de certos espaços públicos sobretudo no que toca à limpeza e ao arranjo. Ficaria siderado com a transformação da bela Praça do Comércio num anárquico parque de estacionamento e o seu desaproveitamento como motor de regeneração e renovação de uma angustiada Baixinha.

E as flores!? Que falta fazem as flores em canteiros e rotundas, amenizando o alcatrão e o casario numa cidade com uma cor e uma luz magnificas. Cidade de rosas onde há tão poucas e tanto se sente a falta do seu perfume.

Talvez na despedida desta breve visita e também sabendo como tem sido tratada por múltiplos poderes, acabasse por concluir que em Coimbra faz falta um hipopótamo no Mondego. É que o hipopótamo, animal que os antigos egípcios tanto respeitavam, é conhecido pela sua convivência pacifica em grupo mas de uma enorme agressividade quando alguém ameaça um dos seus.

Ora, digam lá se não dava jeito um hipopótamo por aqui até para fazer companhia ao urso do Parque Verde que é tão apreciado mas que sofre imenso com permanentes problemas dermatológicos.


(Artigo publicado na edição de 17 de novembro, do Diário de Coimbra)

sexta-feira, 3 de novembro de 2017

MAIS UMA OPORTUNIDADE PERDIDA

O concerto solidário que teve lugar no Convento de São Francisco, foi um exemplo daquilo que tem sido a extraordinária atitude solidária dos portugueses em geral e das mais diversas organizações e empresas, perante a tragédia dos incêndios que atingiu o país, em especial na região centro.

Região centro onde pontifica Coimbra, cidade que pretende assumir uma capitalidade regional e que frequentemente reclama, com razão, da bipolarização do país e do esquecimento deste território, como aliás os repetidos dramas deste verão escaldante vieram confirmar, destapando uma dramática realidade demográfica, social, cultural e económica.

Obviamente que as pretensões de Coimbra não tendo sustentação institucional têm de ser consideradas no contexto de uma imagem, de uma ideia e de uma prática que leve a que a generalidade dos cidadãos a vejam, a entendam e a respeitem por aquilo que assume e que faz.

Hoje, a competição entre cidades é cada vez mais intensa e importante e, por isso, depois de uma fase de consolidação de infraestruturas tornou-se fundamental a adoção, pelos governos autárquicos, de práticas de marketing bem como a utilização das redes sociais no sentido da sua valorização, e é, sobretudo neste campo e na utilização dos instrumentos mediáticos que vão obtendo ganhos.

Para mais quando não há suficientes argumentos quantitativos, isto é, quando o número de eleitores não permite a influência do número de votos, os ganhos têm de ser procurados noutras formas e numa luta constante no contexto de uma competição permanente.

Acontece que perante o drama vivido com os incêndios na nossa região teria sido importante ver Coimbra, numa perspetiva institucional, assumir o papel da tal capital regional que se pretende. Diga-se em abono da verdade que Coimbra pretende mais que a considerem do que ela própria se considera internamente.

Estabelecer, de imediato, contactos com os municípios vizinhos e da região, no sentido de inventariar o tipo de apoios necessários, encontrar local ou locais onde os cidadãos de Coimbra pudessem fazer a doação de bens e ver com as empresas de Coimbra a ajuda que aos mais diversos níveis pudessem prestar, seguido da uma entrega planeada nos locais e aos cidadãos e empresas necessitadas, em conjugação com as Câmaras locais, teria tido uma enorme importância no reganhar de uma imagem de Coimbra forte e generosa, merecedora de respeito e consideração.

Infelizmente tal não aconteceu e foi por isso uma oportunidade perdida no processo de construção de uma Coimbra forte no século XXI e não apenas de uma cidade orgulhosa do passado mas displicente quanto ao futuro.

Talvez amanhã quando Coimbra precisar do apoio dos municípios circundantes, por exemplo, para justificar um dito aeroporto para servir a região, e como “paga” para a sua omissão de hoje, não obtenha mais do que o silêncio expetante e não a força determinada de quem se revê num território mais vasto não em termos geográficos mas por uma ideia de unidade fraterna e de interesse comum.

(Artigo publicado na edição de 2 de novembro, do Diário de Coimbra)