quinta-feira, 13 de julho de 2017

O FUTEBOL É ÚTIL MAS MUITO PERIGOSO



 O futebol, como é sabido, é muito útil e são tantos os seus méritos que me dispenso de os enumerar. É verdade que semeia alegrias e tristezas e provoca discussões impensáveis mas também é sustento de orgulho e de memórias, e provedor da leitura de jornais e revistas ajudando no combate à iliteracia. É, aliás, o grande tema do plano nacional de leitura para adultos.

Mesmo grandes escritores, como o Nobel Camilo José Cela, que em jovem ainda se aventurou como extremo esquerdo, escreveram sobre futebol. Veja-se, da sua autoria, a obra, cheia de humor, “Onze contos de futebol”, que custa uma bagatela e se pode ler numa tarde de sol na praia, sem riscos para a saúde.

Por estes dias, o futebol, deu mais uma prova da sua inequívoca capacidade, mostrando uma eficácia que envergonha a oposição porque conseguiu afastar três secretários de estado e alguns assessores e suplanta o governo porque provoca o temeroso silêncio de alguns destacados membros da oposição. É obra! Como se vê o futebol, mesmo no defeso, é extremamente eficaz.

O futebol e a política são, como está sobejamente provado, uma mistura perigosa, em que a emoção e  ambição se cruzam e em que não se conhecem significativas fronteiras ideológicas. Recorde-se que, aqui por Coimbra, tivemos o presidente de um clube de futebol nomeado diretor municipal do urbanismo pelo presidente da Câmara de então, que exerceu o cargo durante três anos perante o silêncio quase total dos autarcas de todos os partidos políticos, da esquerda à direita.

O medo de perder votos, “atacando” o dirigente do principal clube de futebol da cidade sobrepôs-se à normal luta partidária e levou a que todos, por ação ou omissão, acabassem por ser coniventes com essa insólita e grave situação. Note-se que mesmo a nível social, numa cidade como Coimbra, apenas uma ou duas vozes se levantaram na crítica e contestação a essa promiscuidade e é sabido que sem censura social é difícil alterar este estado de coisas.

No entanto o resultado final deste concubinato foi de tal modo desastroso para a Câmara, para a cidade e para o clube de futebol em causa, que se acredita nunca mais seja possível uma situação idêntica.

Mas o futebol aí está pujante e a demonstrar-se útil, afastado daquela velha e interessante discussão filosófica, sobre a utilidade do inútil. Claro que os factos ensinam que será bom não exagerar na utilização do futebol pela política e que não deixa de ser perigoso assistir àquelas sessões clubísticas em que figuras políticas, particularmente deputados, são banqueteados com jantares e discursos impossíveis dos presidentes dos “seus” clubes, que aplaudem entusiasticamente.

É que o futebol é útil mas também muito perigoso.

(Artigo publicado na edição de 13 de julho, do Diário de Coimbra)



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