Quem
não se lembra dos tempos de indignação? Das manifestações e tomadas de posição
públicas sobre as políticas e os políticos acusados de mentir e de desrespeitar
os compromissos eleitorais?
Parece
qualquer coisa distante, mas não. Os tempos de indignação foram ontem! Hoje
vive-se a pós-verdade. São os tempos de Trump, da vitória da mentira e da
desfaçatez. Já não há indignação mas apoio declarado a mentirosos compulsivos e
a políticos/não-políticos, que, mesmo desmascarados, continuam a ter o apoio
entusiástico dos eleitores, sem que se consiga perceber o que afinal conta.
De
um momento para o outro surgiu uma nova e estranha realidade, alheia a valores
essenciais e que reflete uma sociedade estranha, descompensada e falsa, que faz
pensar naquela frase de Alberto Manguel sobre a complexidade da realidade, no
seu fascinante livro “ Uma história da curiosidade”, que nos diz: “A melhor
maneira de contar a verdade é mentir”.
Cabendo
aos partidos, nas sociedades democráticas, dar respostas aos problemas e aos
anseios dos cidadãos o que se vê é que perante a sua incapacidade de perceber
atempadamente esta nova realidade, entram em desagregação ao mesmo tempo que
surgem movimentos e propostas políticas que ultrapassam aquilo que vinha sendo
uma das regras do jogo, isto é: os partidos recolhiam os votos e os movimentos
sociais procuravam modificar os temos dessa recolha. Parece que enfrentam um
fenómeno idêntico àquele que é descrito como a fadiga dos materiais.
Talvez,
um pouco como metáfora, mas sobretudo como procura de solução para a situação
que se vive e cuja gravidade é difícil perceber em toda a sua extensão, pensar
na técnica usada pelos vitivinicultores para se anteciparem à chegada das
doenças às suas vinhas e atuarem com o adequado tratamento preventivo.
Sabendo
que o míldio e o oídio, duas das principais doenças das vinhas, atacam antecipadamente
as roseiras, porque estas são mais sensíveis, plantam roseiras a bordejar os
vinhedos conseguindo, desta forma, um eficaz e belo método natural de informação.
Ora
os partidos também precisam de sensores que antecipem as doenças que se
aprestam a atacá-los e o que se vê é que isso não tem vindo a acontecer,
limitando-se a repetir estafadas práticas políticas e a adotar narrativas
arcaicas.
Os
partidos políticos em Coimbra, perante o cenário das próximas autárquicas,
precisam urgentemente de plantar roseiras sensoriais para prevenirem graves
moléstias.
(Artigo publicado na edição de 4 de
maio, do Diário de Coimbra)
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