quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017
TRANSPARÊNCIA
Sempre
que há eleições o tema da transparência vem à baila. A transparência na política
tornou-se, nos últimos anos, numa exigência central dos cidadãos e por isso é
natural que na sociedade da informação e da observação em que vivemos, e em que
há um escrutínio permanente das decisões políticas e dos seus autores, ela
assuma uma relevância particular.
A
transparência passou a ser considerada como uma necessidade para melhorar a
qualidade da democracia e porque hoje os eleitores vivem no mesmo ambiente
informativo que os atores políticos estes vêm-se confrontados com a necessidade
de uma nova forma de exercer o poder, o que diga-se não é fácil porque, na generalidade,
a escola política ainda não conseguiu encontrar o adequado programa de
formação.
Aliás,
não deixa de ser curioso que à conta da desejada transparência, como forma de
melhorar a qualidade da democracia, se tenha vindo a fragilizar a própria política,
pela exposição a que está permanentemente exposta e pela forma como é corroída
pela coscuvilhice nas redes sociais e as notícias falsas que tiveram o seu
recente apogeu com a eleição do atual presidente americano.
Depois,
acresce, que tal como em outras questões se entrou por um caminho de
generalização de vícios e pecadilhos, metendo todos os políticos no mesmo saco,
que leva a que perante qualquer decisão surja sempre a dúvida metódica de que
por detrás há uma intenção oculta, que favorece os seus autores, os seus correlegionários ou, pior ainda, um nebuloso círculo de amigos.
Mesmo
que, feita uma análise correta e fina das decisões políticas, se conclua que a
generalidade revela a obediência a um programa político sufragado e a uma defesa
do interesse geral a verdade é que está criada a ideia da defesa do “tacho” e
do benefício de grupo, e esta é uma ideia extremamente difícil de combater, para
mais quando se tomam algumas decisões de incompreensível racionalidade.
Depois
dos tempos da indignação passámos aos da perplexidade e consequentemente aos da
credulidade perante as mais infundadas notícias.
Chegados
aqui, podem-se contestar rankings de transparência, desmontar os critérios adotados
e “matar” os mensageiros que não há nada a fazer. Criada a perceção de que há
um poder que vive na intransparência não há argumentos ou insofismáveis
demonstrações matemáticas que consigam provar o contrário. E isto tem um custo
político!
(Artigo
publicado na edição de 23 de fevereiro, do Diário de Coimbra)
quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017
ORAÇÃO
Apesar
deste ser um ano de eleições autárquicas, duvido que algum dos meus concidadãos
tenha incluído nos seus desejos de passagem de ano, quando comia as doze uva
passa, a ambição de ver eleito um novo e entusiasmante executivo municipal.
Contudo,
estou certo, que alguns, talvez mais do que se pensa, terão considerado como um
dos seus primeiros desejos ser eleitos para um cargo autárquico. É normal que
assim seja, porque o que estava em causa eram desejos pessoais e há quem
invista durante meses e anos numa eleição redentora.
O
que não há dúvida é que todos, no silêncio dos seus pedidos, não deixam de
aspirar a um ano feliz, cheio de realizações pessoais, ainda que muitas dessas
realizações dependam da vontade, da capacidade e do mérito político daqueles
que desejam ser atores políticos e se propõe a tal.
Este
desejo de atingir a felicidade exercendo um cargo político, quando a política é
tão mal vista e os políticos sofrem aquilo que alguém chamou de “síndrome de
Tocqueville”, pelos privilégios que lhe são atribuídos, sendo ainda alvo de um
intenso escrutínio que ultrapassa e esfera puramente institucional, não deixa
de ser paradoxal.
É,
no entanto, certo que não teremos falta de candidatos ao governo da nossa
cidade e é também certo que a forma e as características das suas candidaturas
não deixam de representar aquilo que é o estado da arte política na nossa
cidade.
Numa
democracia representativa, como a nossa, partidos fortes, dinâmicos, abertos à
sociedade, capazes de lerem os sinais que, das mais diversa formas, vão sendo
transmitidos, geram bons candidatos. Pelo contrário, a fragilidade partidária e
o alheamento perante as ambições coletivas levam à frustração e ao alheamento
dos eleitores com os resultados conhecidos de elevadas taxas de abstenção ou
com escolhas impensáveis, como está a acontecer por esse mundo fora.
É
por isso bom um esforço de entendimento da nossa realidade e ter em conta como diz
Alberoni, em “Viagem pela Alma Humana”: “Os grandes êxitos e as grandes
catástrofes na vida dos indivíduos, das empresas e das nações acontecem porque
as pessoas não se apercebem de que alguma coisa mudou de forma subterrânea.
Continuam a comportar-se como antes e vêem-se desarmadas contra a nova
situação.”
Neste
momento, face ao que se conhece e ao que se adivinha, o mais acertado é deixar
um pedido: “Oremos para que em Coimbra, tudo corra bem.”
(Artigo
publicado na edição de 9 de fevereiro, do Diário de Coimbra)
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