quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

VAMOS A ISSO!



Em política não há vazios nem intervalos. Conseguido um governo improvável e um presidente da República previsível, é tempo de, por boas e imperiosas razões, começarmos a utilizar a nossa inteligência e gastarmos as nossas energias a olhar politicamente para a nossa cidade.

Decorrido meio mandato autárquico e tendo consciência da que vai acontecer uma aceleração da atividade político-partidária é prudente começar a interrogar e a escutar porque, como diz Francesc Torralba “a arte de escutar exige tempo”.

Decorrida década e meia deste complexo século XXI ao olhar, de dentro, Coimbra fica-se com a sensação de que se mantêm as interrogações essenciais que há muito nos atormentam: O que queremos ser? Para onde queremos ir? Que caminho temos de percorrer? 

Questões permanentes mas que merecem convincente resposta atempada tendo em conta os ciclos políticos e de governo da cidade. Questões que imbricam com a realidade desconfortável de uma abstenção obscena nas eleições autárquicas numa cidade como Coimbra e na perceção – porventura bem real – de uma decadência política por ausência de participação partidária qualificada e da inexistência de novas lideranças leais à cidade e a ela dedicadas de alma e coração.

Na verdade precisamos de uma comunidade de confiança que nos motive a continuar a dizer com orgulho que somos de Coimbra em que acreditamos, e que estamos dispostos a trabalhar coletivamente pelo seu sucesso, o que pressupõe a existência de objetivos comuns e não de um contencioso interno que apenas implica desgaste de energias e de vontades.

As últimas eleições – legislativas e presidenciais – ensinaram-nos muitas coisas e demonstram-nos que há na nossa sociedade um enorme défice democrático que nos deve levar a relembrar a afirmação de Péricles: “Distinguimo-nos de outros Estados ao considerar inútil o homem que se mantém afastado da vida pública” e, consequentemente, a tudo fazer para trazer à “vida pública” os nossos concidadãos.

Coimbra tem uma dimensão e uma qualidade humana que permitem, com inteligência, vontade e persistência, encontrar bons caminhos de futuro, mas precisa de se reorganizar internamente, sobretudo a nível político, incentivando o aparecimento de novos e qualificados protagonistas, capazes de perceberem o tempo presente, de percecionarem o futuro e que tenham presente a carta envida em 1426 de Bruges, pelo Infante D. Pedro Duque de Coimbra, ao seu irmão o rei D. Duarte.

Vamos a isso!

(Artigo publicado na edição de 28 de janeiro, do Diário de Coimbra)

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

ANDAM A GOZAR CONNOSCO



Recentemente foi com o Ceira. Vieram umas chuvadas e Ceira foi inundada com graves consequências para os seus habitantes. Responsáveis? Só a natureza!

Agora foi o Mondego. Depois de meses de sequeiro veio uma chuva, nada de especial, e o Mondego apesar das obras de aproveitamento hidroeléctrico e de controlo e regularização do caudal, saltou das margens de forma intempestiva e desatou a fazer estragos. 

É óbvio que o que aconteceu por estes dias é de difícil explicação. Como é possível que perante os mecanismos de controlo e no contexto meteorológico previsto e vivido não tenha sido possível evitar a cheia(?). Por mais que nos atirem explicações é evidente que houve uma gestão incompetente do armazenamento e débito da água do rio e isso teve consequências imediatas de enorme gravidade e de grande preocupação para futuro. Eu, como decerto muitos outros cidadãos, não acredito que não tenha havido incompetência por parte da(s) entidade(s) com responsabilidades e não acredito nas explicações dadas.

É imperiosa uma peritagem feita por técnicos independentes para analisar tudo o que se passou e permitir uma responsabilização exemplar de eventuais comportamentos laxistas e incorretos, sem esquecer a indemnização devida pelos estragos provocados, e ainda uma eventual revisão dos protocolos de atuação, não só para que nos descansem, mas também, se for o caso, para que levem a intervenções corretivas, que coloquem pessoas e bens acima de quaisquer outros interesses.

Por outro lado, não é possível entender o adiamento, ano após ano, do desassoreamento do Mondego, concretamente, entre a Portela e o Açude-Ponte. É que o Açude-Ponte não é apenas um estabilizador do caudal do rio é também uma barreira aos inertes, que aí se vão acumulando, perante uma passividade injustificável e que se assumirá como criminosa no dia em que uma verdadeira catástrofe se abater sobre a Cidade.

Nada disto é alarmismo ou novidade para quem conhece tecnicamente o problema, nem tão pouco para o simples cidadão que percebe perfeitamente que esta é uma situação insustentável e de eventuais graves consequências. Não é tolerável, em nome de Coimbra da sua segurança e do seu futuro, que a entidade – não sei neste momento quem é nem acredito que se venha a assumir e a denunciar – responsável pela intervenção, continue a assistir impávida e serena ao acumular de inertes no leito do rio. Se dúvidas houver perguntem ao Basófias que já, por diversas vezes, demonstrou o insustentável nível de assoreamento do Mondego. 

Tenham respeito pelo Mondego e por Coimbra, e não andem a gozar connosco.

(Artigo publicado na edição de 14 de janeiro de 2016, do Diário de Coimbra)