sábado, 30 de outubro de 2010

ORÇAMENTO


No meio de toda a novela orçamental lembrei-me daquela afirmação de um ministro das finanças francês  - Baron Louis - que o grande Machado de Assis utiliza no "Sermão do Capeta" : “Dai-me boa política e eu vos darei boas finanças.” e de que a seguir transcrevo uma pequena parte:

 "Já agora parece que estou em dia de fantasmas. Mal pingava o ponto final do outro parágrafo, quando me apareceu um senhor, que me disse ser defunto e haver-se chamado Barão Louis. 

- Conheço muito, disse-lhe eu: tenho ouvido a sua célebre máxima: “Dai-me boa política e eu vos darei boas finanças”.

 - Ah! meu caro senhor, acudiu o barão; essa máxima tem-me tirado o sono da eternidade. Já não a posso ouvir, sem tédio. Quer ajudar-me a publicar uma troca de palavras que fiz, mudando o sentido, a ver se pegam na segunda forma e deixa-me em descanso a primeira?
  
- Senhor barão…

- Escute-me. Em vez de “Dai-me boa política e eu vos darei boas finanças”, arranjei esta outra forma: “Dai-me boas finanças e eu vos darei boa política.” Promete-me?

- Pois não!

 - Não esqueça: “Dai-me boas finanças e eu vos darei boa política.”



sexta-feira, 29 de outubro de 2010

A CEGUERIA DA VIDEOVIGILÂNCIA


Desde o primeiro momento que tenho sido uma voz isolada na discordância com a instalação da videovigilância na Baixa de Coimbra.

Sempre entendi que a sua instalação era um erro em termos de custo/benefício e  que não só não iria resolver nenhum problema mas, bem pelo contrário, iria afastar as pessoas daquele espaço. É que a existência da videovigilância num contexto urbano de espaço aberto é só por isso um elemento indutor de medo e  provocador de esvaziamento humano.

Mais, comprometeria ainda mais a presença da polícia na Baixa, essa sim fundamental, já que levaria à necessidade de realizar um "policiamento de gabinete", com um polícia olheiro, retirado do terreno, a  "vigiar" pacatos cidadãos ou  o vazio, instalado algures numa cadeira.

A dimensão dos problemas não justificava tal opção, mas a incapacidade  do governo da cidade de desenhar políticas adequadas aos problemas que a Baixa vem enfrentando levou à adopção duma modernidade perversa que mais não fez do que colocar um ferrete sobre um espaço que não necessitava de mais ataques mas de iniciativas que o "puxassem para cima" e o requalificassem sabiamente.

Agora vai-se percebendo que a videovigilância é um bluff e uma fuga aos verdadeiros problemas, com custos directos de manutenção que não são conhecidos mas com  enormes custos indirectos a nível de imagem  e, mais grave ainda, de depreciação económica de um espaço que, para sobreviver, necessitava, isso sim, de ser valorizado.

Câmara e Governo estiveram de mão dada num  disparate, como vem sendo provado e que será exuberantemente comprovado quando se conheceram os custos dum distante e ineficaz policiamento de gabinete.

A videovigilância na  Baixa de Coimbra representa uma total cegueira sobre os reais problemas da cidade e a ausência de uma inteligência criativa tão necessária à sua solução.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

A ARTE DA PRUDÊNCIA - 73


Saber usar evasivas.

É o recurso dos prudentes. Com a galanteria de um donaire conseguem sair do mais intrincado labirinto. Com um sorriso, airosamente, evita-se a mais difícil contenda. O maior dos grandes capitães baseava nisto a sua coragem. Mudar de assunto é uma astúcia cortês para dizer que não. Não há discrição maior que a de não se dar por achado.

A Arte da Prudência
Baltasar Gracián

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

SURPRESAS


A noticiada decisão do Governo, prevista no Orçamento do Estado  para 2011, de agrupar num a só unidade os Hospitais da Universidade de Coimbra, o Centro Hospitalar de Coimbra e o Centro Psiquiátrico de Coimbra, é uma surpresa.

A generalidade das reacções conhecidas de concordância, é uma outra surpresa.

Sendo uma decisão política de apregoada racionalidade não deixa de ser uma decisão tomada sob pressão, uma decisão preliminar e para já insuficientemente estruturada. Talvez, por isso mesmo, alguns dos concordantes não a encarem muito a sério e os não concordantes estejam remetidos ao silêncio.

A convicção de que esta decisão, inserida no contexto de uma reorganização da administração pública de  que resultarão benefícios operacionais e diminuição de custos ganhos tem, para já, tanto de bondoso como de ingénuo.

A história, a dimensão e a cultura organizacional e funcional dos estabelecimentos de saúde em causa vão trazer problemas de um âmbito e de uma especificidade que se vão tornar num calvário para gestores e políticos.

Para mais há toda uma imensidão de interesses - muitos deles obviamente legítimos e compreensíveis - que ou me engano muito ou vão determinar no curto e médio prazo mais gastos do que as economias de escala pretendidas.

Aliás, medidas deste tipo deveriam ser tomadas, para não acabarem num traumatizante  fracasso, num contexto de médio prazo, com adequado planeamento e não em tempo de crise económica e social.
 
Até acredito que esta poderia ser uma grande oportunidade para Coimbra na área da saúde mas, sinceramente, acho que vamos assistir a um ano de peripécias e de controvérsias que acabarão por se traduzir em desgaste e em prejuízo para a imagem da cidade.

É preciso aprender a rezar na era da técnica, como alguém escreveu. Eu vou ver se aprendo, para pedir que não nos provoquem mais descarrilamentos nem nos abram mais feridas

Já agora, por que é que esta estratégia de propalada racionalidade na área da saúde não é aplicada com igual ênfase no Porto e em Lisboa.  

Por que será?

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

A PARÁBOLA DO PALHAÇO


Ao ler as tristes peripécias que assolam o PS Coimbra, nesta fase pós-eleitoral, e a forma como certos mensageiros, ou melhor a sua imagem, nos ajuda a compreender  e a aceitar as suas mensagens, lembrei-me da "Parábola do Palhaço", da autoria do filósofo dinamarquês Soren Kierkegaard e que diz o seguinte: 

"Num circo acontece um incêndio. O palhaço sai a correr à procura de ajuda numa aldeia próxima. Oas habitantes da aldeia, ao ouvirem o palhaço a avisar do incêndio e a suplicar ajuda, pensam que se trata de uma brincadeira, ainda que o palhaço se esforce por conferir veracidade ao que diz. Os habitantes não acreditam que o circo esteja a ser consumido pelo fogo."

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

QUEM GANHOU OU PERDEU NO PS COIMBRA


Do resultado das eleições para a Federação de Coimbra do PS fica a dúvida se foi Mário Ruivo que ganhou ou Victor Baptista que perdeu. 

Poder-se-á dizer que é a mesma coisa, mas não é bem assim. 

É que haverá quem tenha votado em Mário Ruivo em desespero com a liderança (?) de Victor Baptista, que nos seus mandatos reduziu o PS Coimbra a uma sombra de si próprio,  especialmente naquilo que tem  de mais profundo: os seus ideais e os seus valores; tendo-o conduzido, por uma inqualificável prática política e uma absoluta ausência de visão e de estratégia, a um desgraçado caminho de difícil retorno.

Mário Ruivo vai, por isso, ter de provar que a sua eleição não é o resultado da rejeição do seu oponente, assim como vai ter de trabalhar muito para se impor e protagonizar uma efectiva mudança e um retorno aos valores e à prática política inerentes a um grande partido, que está acantonado num beco onde falta memória, qualidade e credibilidade política.

Mais ainda, Mário Ruivo vai ter muito que penar perante as rasteiras, os truques e as habilidades inerentes a um mau perder e a uma absoluta incapacidade de percepção de uma imagem de esgotamento e de  vacuidade política que por vezes chegou a roçar o risível.

Da tardia derrota de Victor Baptista só fica o amargo de boca de o ver arrastar na sua queda alguns militantes a quem o PS muito deve e que desta forma acabam por sofrer uma nova morte política.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

A ARTE DA PRUDÊNCIA - 72

Ser decidido.

É menos prejudicial a má execução que a falta de decisão. Não se corrompem tanto as matérias quando correm, como quando estagnadas. Há homens irresolutos que para tudo necessitam da motivação dos outros. Às vezes a origem não está tanto na perplexidade, pois são perspicazes, mas na inactividade. Objectar costuma ser engenhoso, mas mais o é encontrar saída para os contratempos. Outros há, de grande discernimento e determinação, que não se detêm perante nada. Nasceram para ocupações elevadas, porque a sua compreensão rápida facilita o acerto e a resolução. Encontram tudo feito:a um destes, depois de ter explicado um mundo, ainda lhe ficou tempo para outro. Quando estão afiançados do seu êxito aventuram-se com mais segurança.

A Arte da Prudência
Baltasar Gracián

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

O PRIMEIRO ACTO

 
Na tomada de posse como presidente da Direcção da Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários de Coimbra fiz a seguinte intervenção: 

"Permitam-me que, em nome da Direcção a que passo a presidir, comece por expressar o reconhecimento pelo trabalho dos membros dos órgãos sociais que hoje terminaram funções, na pessoa do Sr. Coronel Ribeiro de Almeida, do Sr. Dr. Fausto Garcia e do Sr. Hermínio Palmeira.

A sua generosidade e empenhamento em prol desta instituição são um exemplo que nos orientará na nossa acção.

Depois, quero saudar os sócios desta Instituição, que a continuam a ver como uma referência e a manterem-se fieis aos seus desígnios, e uma saudação muito especial aos sócios beneméritos, pelo contributo decisivo que dão à sua subsistência.

Também seria impossível não manifestar perante vós o profundo reconhecimento aos bombeiros voluntários que integram o Corpo de Bombeiros desta Associação, pela sua dedicação, disponibilidade, esforço e competência na defesa e salvaguarda diária de pessoas e bens. São o nosso orgulho e a nossa bandeira. São o grande pilar da causa humanitária que levou à constituição da Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários de Coimbra.

Ao seu Comando e na pessoa do Comandante Nobre uma saudação muito especial.

Não posso, finalmente, deixar de agradecer à comunicação social a forma como acompanha a vida desta instituição e tem dado a conhecer os seus problemas, os seus anseios e o seu trabalho quotidiano. Aos senhores jornalistas aqui presentes o nosso muito obrigado.

Sou um homem de sorte porque mais uma vez fui convidado para um desafio difícil. São os desafios difíceis que verdadeiramente merecem ser enfrentados. Depois de muitos anos de intensa actividade, quando estava “posto em sossego”, vieram o Sr. Coronel Ribeiro de Almeida e o Sr. Dr. Fausto Garcia convidar-me para assumir uma candidatura a este cargo, convite que veio a merecer a concordância e o apoio dos restantes membros dos órgãos sociais que agora terminam o seu mandato.

Fizeram-no não porque eu seja “o mágico” que vai resolver de uma assentada os problemas existentes, mas porque acreditam que sendo alguém que gosta de Coimbra e que tem um currículo de serviço público, será capaz de assumir um compromisso de futuro com os Voluntários de Coimbra, honrando o seu passado.

Eu, pela minha parte, “arrastei” para este desafio um conjunto de cidadãos, com diferentes competências técnicas e experiências profissionais, que têm em comum o amor a Coimbra. Sabem que apenas os esperam incómodos e preocupações mas aceitaram e por isso lhes estou imensamente grato.

Assim, está perante vós uma equipa, com uma enorme vontade de trabalhar e em que todos os seus membros afirmam solenemente pela sua honra que cumprirão com lealdade as funções para que foram eleitos.

Parafraseando Napoleão, direi que quando olhamos para estas paredes se sente que cento e vinte e um anos de história nos contemplam. E isso implica um enorme sentido de responsabilidade. Não é impunemente que se assume a Direcção desta instituição, para mais num contexto global de grandes dificuldades.

Mas os dados estão lançados. Não nos resta mais do que arregaçar as mangas e começar a trabalhar.

A grande questão, que nos últimos vinte anos tem estado no centro das atenções e motivado intervenções, como a protagonizada na Sessão Solene do Centenário, em Abril de 1989, pelo presidente da Assembleia Geral de então, Dr. Fausto Correia – um grande bombeiro voluntário de Coimbra –, é o quartel.

A questão do quartel tornou-se, aliás, numa típica questão coimbrã. Uma questão que se discute e para a qual se vão encontrando soluções que nunca acabam por acontecer. O tema do quartel dos voluntários de Coimbra daria uma boa história de aventuras do famoso Barão de Munchhausen com o título do “Quartel Voador”, dado que é um quartel que hoje fica aqui, amanhã vai para ali e no dia seguinte noutro sítio, no meio de múltiplas peripécias.

É portanto inevitável que a questão do quartel – apesar do problema central com que nos debatemos seja o da sustentabilidade institucional –, mereça da nossa parte uma atenção especial, sendo certo que não vamos procurar mais uma solução para o quartel, vamos, isso sim, encontrar a solução para o quartel.

Será a solução decorrente duma análise e de uma avaliação que queremos fazer com a colaboração dos sócios, dos cidadãos de Coimbra e das mais diversas instituições públicas e privadas, no contexto da definição de uma estratégia global, tendo, no entanto, como pressuposto que esta Direcção entende que a AHBVC e o Quartel dos Bombeiros Voluntários deve continuar na Baixa.

É que sair da Baixa é contribuir para a sua morte!

Aliás, sinto que há um apelo, vindo das ruas da Baixinha, de que não a abandonemos. Até o “Packard” – o pastor alemão que é mascote da Corporação e que parece sofrer do mal de nostalgia – já me terá tentado dizer que se o levarem daqui morrerá mais depressa.

Aliás, aconteceu que, por estes dias, estive a reler um breve escrito do filósofo francês Jacques Derrida sobre as “Cidades Refúgio”, tendo ficado com a convicção de que esta Associação e o Quartel dos Voluntários são uma “instituição refúgio” da cidade, cuja existência faz todo o sentido neste espaço urbano e que no dia em que daqui saísse deixaria um vazio e uma ferida irremediável.

Sabemos que há compromissos assumidos de boa fé, em nome de instituições de bem. Não os vamos deitar para o caixote nem desonerar os seus signatários, mas temos de pensar o futuro à luz da defesa dos superiores interesses da cidade e da AHBVC e é nesse quadro que vamos encontrar a solução mais adequada. É aqui que vamos projectar um quartel moderno e funcional, digno de uma cidade que se diz do conhecimento.

Vamos dar inicio à nossa actividade neste contexto de urgência relativamente ao quartel mas em que a primeira necessidade – peço-lhes que registem – é a de garantir a sustentabilidade da Associação e, por isso, não posso deixar de vos fazer um apelo a que nos ajudem.

Precisamos de mais sócios e precisamos de mais sócios beneméritos. Precisamos de apoios institucionais mas também de apoios individuais, porque só dessa forma poderemos garantir o indispensável nível de operacionalidade que nos permita actuar com rapidez e eficácia.

Coimbra é uma cidade especial e particular no que diz respeito aos riscos que enfrenta. O primeiro e não menor, é o da própria inconsciência colectiva relativamente às questões de segurança, dado que a generalidade dos seus cidadãos não se apercebe do tipo e dimensão de problemas que a cidade apresenta com a sua orografia, a sua riqueza monumental, o seu tecido urbano, os seus estabelecimentos universitários – com o imenso espólio de que dispõem – os seus estabelecimentos de saúde –, o seu Mondego, os seus 13.000 hectares de terrenos arborizados, etc., etc., etc.

Os cidadãos de Coimbra dormem descansados porque sabem que há quem vele por eles. Os Bombeiros Voluntários de Coimbra gostariam de estar descansados com a certeza de que os apoiam e os reconhecem como um pilar fundamental da estrutura de protecção civil que lhes garante segurança, tranquilidade e, consequentemente, qualidade de vida.

Há uma relação da cidade com os seus bombeiros voluntários que tem de ser rapidamente alterada. Pela nossa parte vamos melhorar o nosso processo de informação e de comunicação e vamos promover iniciativas de índole cultural, desportiva e recreativa que, aliás, fazem parte dos objectivos inscritos nos nossos Estatutos, de modo a conseguir uma maior visibilidade e um melhor conhecimento da nossa realidade.

Esperamos que a cidade, por seu lado, corresponda e nos ajude, porque aqui se trabalha voluntariamente “A Bem da Humanidade”.
"

VOLTAR NO OUTONO


Por inimagináveis razões técnicas acabei o Verão sem acesso à net e por isso estive silencioso.

Resolvido o problema volto no Outono. Talvez com menos tempo e mais cansado por novos afazeres, voluntários mas exigentes.

Mas sou um homem de sorte. Só me fazem desafios difíceis e eu vou aceitando por amor a Coimbra. Agora sou presidente da Direcção da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Coimbra.

A promessa é de que apesar de tudo continuarei a escrever e a dizer o que penso com total liberdade.