sábado, 27 de fevereiro de 2010

A ARTE DA PRUDÊNCIA - 31


Conhecer os afortunados, para escolhê-los, e os desditados, para repudiá-los.

A má sorte é, com frequência, culpada da estupidez, e não há contágio mais fácil que esse para os próximos do desditado. Nunca se deve abrir a porta ao mais pequeno mal, pois virão sempre atrás dele, às escondidas, muitos outros e maiores. O melhor truque no jogo é saber descartar-se: é mais importante a carta menor do trunfo presente que a maior daquele que passou. Na dúvida, o melhor é aproximar-se dos sábios e prudentes, pois mais tarde ou mais cedo deparam com boa sorte.

A Arte da Prudência
Baltasar Gracián

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

MAGNÓLIAS


 
Para contrastar com toda a poluição visual que por aí vai - dos mupis politico-partidários aos anúncios de circo e discotecas - tudo a modos de uma pequena vila, sabe bem ver as magnólias em flor. 

Talvez uma das primeiras flores a aparecer no nosso planeta.


São flores breves, mas de grande beleza, que é imperioso "aproveitar" e reter na memória.

É poesia pura.

JOHNNY CASH


Ouvir Johnny Cash é sempre um prazer e hoje é um dia em que merece ser particularmente lembrado e ouvido.

Johnny Cash nasceu a 26 de Fevereiro de 1932.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

PROTESTO CONTRA A ASFIXIA DEMOCRÁTICA.


A Assembleia Municipal aprovou, por unanimidade, uma moção em que manifesta a sua preocupação pela intenção de encerramento da Agência Lusa em Coimbra, com o argumento de que "este é mais um acto de limitação da informação e de diminuição da democracia".  Fizeram muito senhores deputados!

Só que os munícipes de Coimbra se perguntam onde estavam quando a Câmara proibiu os profissionais da comunicação social de assistirem às suas reuniões, prática com mais de 30 anos? 

Será que a proibição da comunicação social nas reuniões da Câmara não é um acto de limitação da informação e da diminuição da democracia? Onde está a coerência, já para não falar da coragem, face à dualidade de critérios? 

Parece que afinal protestar contra terceiros é fácil, difícil é exercer a competência própria de fiscalização da actividade da Câmara e combater a asfixia democrática.

É assim que querem ser levados politicamente a sério?

O Dr. Carlos Encarnação mete-lhes assim tanto medo?

O DESEJO DO PODER E O SEU USO - UM EXEMPLO FALHADO.

Quando se ouve a Dr.ª Manuela Ferreira Leite dizer que atingiu, como líder do PSD, todos os seus objectivos percebe-se que efectivamente ela nunca desejou conquistar o poder. Aliás, a sua última intervenção pública na Câmara de Comércio Luso Francesa veio demonstrar isso sobejamente. É um discurso gratuito de alguém a quem não interessa o poder.

Mais, esta percepção, foi sendo sedimentada pela imagem de que se moveu, constantemente, por um ódio primário contra o primeiro ministro, que a cegou totalmente e a diminuiu como política, e outro foi o de nunca ter sido capaz de apresentar ideias e um projecto para o país, que suscitassem a adesão dos cidadãos. O legado da sua liderança traduz-se num ódio pessoal e num vazio político.

Com um discurso redutor, de pretensa superioridade moral e ética - detentora da verdade e acusadora de pecados alheios -, acabou mesmo por levar a que nestes últimos anos o PSD se apresentasse como um mero partido de contrapoder, imagem que lhe vai ser difícil de apagar, tanto mais que muitos dos seus dirigentes e quadros políticos foram e continuam a ser coniventes com esta prática política.

Para conquistar o poder é necessário desejá-lo e depois demonstrar que se pretende o seu uso para um desígnio superior. 

Será que o líder que se segue consegue fazer esta demonstração?

A VIRTUDE PRIVADA E O BEM PÚBLICO

Numa sociedade moral, o bem público deve basear-se na virtude privada.

"Fazer o que é bom para o país, bom para a empresa, exige trabalho duro, grandes competências ao nível da gestão, elevados padrões de responsabilidade e uma ampla visão. É uma intenção de perfeição. Levá-la completamente a cabo exigiria a pedra filosofal que consegue converter o elemento mais básico em ouro puro. No entanto, se quer que a gestão continue a ser um grupo de liderança, deve fazer desta regar a estrela polar da sua conduta, deve - conscientemente - esforçar-se ao máximo por estar à sua altura, e deve na verdade fazê-lo com um justo grau de sucesso. Isto porque numa sociedade boa, de moral e duradoura, o bem público deve sempre basear-se na virtude privada. Cada grupo líder deve estar apto a defender que o bem público determina o seu próprio interesse. Esta asserção é a única base legítima para a liderança; o primeiro dever dos líderes é torná-la numa realidade."

The Practice of Management
Peter F. Drucker

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

A ARTE DA PRUDÊNCIA - 30


Não se dedicar a ocupações desacreditadas, e muito menos às quiméricas: só se obtém desprezo e não renome.
 
As seitas do capricho são muitas e o homem sensato deve fugir de todas elas. Há gostos exóticos que se casam sempre com tudo aquilo que os sábios repudiam. Vivem entregues a qualquer extravagância, e apesar de isso os tornar muito conhecidos, é mais pelo ridículo que pela reputação. O prudente, embora sábio, não deve sobressair, e muito menos nas ocupações que tornam ridículos os que as praticam. Não se especificam porque o descrédito geral tem-nas suficientemente assinaladas.

A Arte da Prudência  
Baltasar Gracián

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

LIBERDADE DE INFORMAÇÃO

Um debate intenso invadiu o nosso quotidiano – ainda que de forma enviesada e confusa –, sobre liberdade de expressão e liberdade de informação, o que nos obriga a reflectir.

A primeira conclusão, que somos forçados a tirar pela própria discussão, é de que há total liberdade de expressão e de informação ainda que existam, como sempre existiram, tentativas de a condicionar.

É evidente que incomodam os insultos à nossa inteligência proferidos, sobre estas questões, por figuras paradigmáticas como as de Alberto João Jardim, que preside a um governo regional que paga com dinheiros públicos um jornal onde não há livre expressão de opinião nem contraditório ou a de Manuela Moura Guedes que confunde as suas opiniões e a manifestação dos seus ódios pessoais com informação.

Mas o que tem sido mais preocupante neste debate são algumas afirmações deveras surpreendentes, que nos obrigam a interrogarmo-nos até onde é possível levar a cegueira partidária. Veja-se o caso do Dr. Paulo Mota Pinto, Deputado pelo Círculo de Coimbra e vice-presidente do PSD, que veio defender um ilícito criminal - a violação do segredo de justiça – em nome do interesse público da informação. O seu “interesse público”, obviamente.

O Dr. Paulo Mota Pinto já se terá arrependido dessa sua afirmação mas, já que a fez e tendo em conta as responsabilidades que tem e, ainda mais, tendo sido autarca quando na Câmara de Coimbra o seu Executivo permitia a assistência livre da comunicação social às suas reuniões, pergunta-se como é que consegue suportar e conviver com as decisões do seu companheiro de partido Dr. Carlos Encarnação de correr com os jornalistas da Câmara.

Será que esta decisão de impedimento do acesso da comunicação social às reuniões da Câmara, onde são tomadas verdadeiras decisões de interesse público - revogando uma prática com mais de trinta anos -, não lhe merecerá repúdio ou a mais leve perturbação quando assume a defesa de um acto criminoso em nome de um pseudo interesse público?

Mais, como é possível que tantos daqueles que, se lêem e ouvem falar, com tão vivo entusiasmo, sobre liberdade de informação, se calem perante uma clara estratégia redutora da qualidade da democracia e indutora da suspeição e da desconfiança na Câmara da nossa cidade?

Afinal que liberdade de informação defendem e que formas de condicionamento aceitam? Não será que a decisão, tristemente histórica, do Dr. Carlos Encarnação, de só aceitar uma informação diminuída, filtrada e politicamente trabalhada, não é uma forma condenável de obstar a uma informação independente sobre decisões de interesse público?

Claro que há sempre alguém que não se resigna e por isso houve uma tomada de posição de repúdio através de um Manifesto Anti-Silêncio na Câmara de Coimbra e uma Petição: Pela Presença da Comunicação Social nas Reuniões da Câmara Municipal de Coimbra, assinada, até momento, por 310 cidadãos (ver: http://www.peticao.com.pt/ver-assinaturas.html?peticao=1397).

Obviamente que a maioria política que governa a Câmara e defende, a nível nacional, a violação do segredo de justiça e a divulgação de conversas privadas aqui, onde é poder, remete-se ao silêncio, seguindo um caminho de opacidade e obstrução do acesso dos jornalistas - de forma livre, responsável e independente -, a informação de inequívoco interesse público, porque implica com a vida dos seus concidadãos.

Esta é a irrefutável verdade sobre a liberdade de informação a que temos direito em Coimbra, uma cidade que já teve como bandeiras o espírito irreverente e a liberdade e que se tem vindo a acobardar na defesa de valores que a singularizaram e a destacaram como uma cidade única e especial.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

DIÁLOGOS NA CÂMARA - IX

O vice-presidente chegou afogueado e um pouco nervoso. Ficava sempre assim quando o presidente o chamava ao gabinete - Bom dia, senhor presidente, disseram-me que queria falar comigo.

- Feche bem a porta. Vamos ter uma conversa confidencial e não quero que ninguém nos oiça - atirou o presidente num sussurro, sem cumprimentar. Olhe - continuou - como já percebeu eu vivo muito esta casa, não há processo que não conheça, nem dossier que não estude.

O Vice-presidente fingiu concordar e com um sorriso amarelo aguardou novas confidências.

Então o presidente recomeçou - Sabe vivemos tempos de mudança e eu sou-lhe franco estou cansado dos disparates todos que os vários vereadores foram fazendo. Gastaram dinheiro sem sentido, meteram para aí dezenas de pessoas, enfim, foram dando cabo da Câmara sem eu saber... Por tudo isto e porque estou convencido que vão precisar de mim em Lisboa daqui a algum tempo, quero que comece assumir o papel de presidente. Bem, não se assuste. Eu ainda vou estando por cá, mas tenho de tratar da imagem, de fazer conferências sobre o país, tenho de ir largando a pele de presidente de Câmara e de aparecer como político de dimensão nacional. 

O vice-presidente ainda ficou mais vermelho e gaguejando disse - Mas, senhor presidente, eu não estava à espera dessa sua decisão tão cedo...

- Pois é, meu caro, mas do que eu gosto é de Lisboa e não posso deixar de me descartar das asneiras que por aqui foram fazendo. Tenho aliás de renovar as minhas gravatas e de afinar o discurso de ruptura que para já perfilho, mas também quero treinar o discurso da mudança e da unidade. É preciso estar preparado para tudo para chegar rapidamente lá abaixo. Aquilo é outro mundo. Aliás é, verdadeiramente, o meu mundo.

- Senhor presidente, tem de me dar algum tempo. Isto é mais complicado do que eu imaginava - assumiu o vice-presidente.

- Bem, isto fica aqui só entre nós, mas não há tempo a perder e, meu caro, quer queira quer não as coisas vão-se precipitar, ainda que eu vá dando uma mãozinha sempre que haja boas notícias, no resto vai ter de ser você a assumir - concluiu o presidente.

-Mas, senhor presidente, as coisas não vão nada bem e então em termos financeiros isto vai dar para o torto e eu preciso da sua ajuda - arriscou o vice-presidente.
- Ai sim - ripostou o presidente - e então o país!? Sabe como estão as finanças públicas? Não imagina o trabalho que dá olhar para o orçamento do Estado. E o PEC que aí vem. É verdade que antes de o conhecer eu já sei umas coisas sobre ele mas tenho de conhecer pelo menos as siglas e... evitar as olheiras.Já viu o que é alguém aparecer de olheiras na televisão...

O vice-presidente sentia o chão a fugir-lhe debaixo dos pés mas percebeu que estava definitivamente condenado. Os tempos iam ser difíceis.

O presidente afundou-se na cadeira com um ar sonhador enquanto o vice-presidente saía com ar cabisbaixo. 

Nota: Qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência.

CARTA - COMISSÃO ÉTICA DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA


Exm.º Senhor
Presidente da Comissão de Ética, Sociedade e Cultura da
Assembleia da República
 
A Comissão de que V. Ex.ª é mui digno presidente tem vindo a proceder a audições subordinadas à temática do exercício da liberdade de expressão em Portugal.

No âmbito dessas audições, têm sido feitas afirmações e comentários que vão para além da estrita apreciação da liberdade de expressão e que envolvem, entre outros, com o direito à informação.

É nesse contexto e porque o que está em causa implica o todo nacional, que me dirijo a V.ª Ex.ª dando a conhecer, como mero contributo para a reflexão, um processo exemplar de retrocesso no que toca à limitação do acesso à informação.

Com efeito, depois de mais de trinta anos em que os profissionais da comunicação social estiveram autorizados a assistir livremente a todas as suas reuniões, a Câmara Municipal de Coimbra – presidida pelo Dr. Carlos Encarnação –, decidiu, no início do seu actual mandato, limitar essa presença exclusivamente às reuniões públicas.

Não se põe em causa nem se contesta a legitimidade da decisão, o que se nota e sublinha é que uma instituição que, nos termos da Constituição da República integra a organização democrática do Estado, tenha acabado com a saudável prática, de mais de trinta anos, de permitir que a comunicação social procedesse ao seu trabalho de recolha de informação de forma presencial e livre, sobre decisões de interesse colectivo e as desse a conhecer aos cidadãos.

O que foi posto em causa foi um verdadeiro trabalho de utilidade pública, o que não se compreende quando se procura uma cada vez maior transparência e uma mais completa informação dos cidadãos.

É difícil compreender e aceitar decisões políticas como esta, para mais no Município de Coimbra., no momento em que se defende uma democracia cada vez mais participativa e uma verdadeira governance, particularmente nas autarquias locais.

 Apesar das reacções públicas contra a referida decisão, concretamente através de um “Manifesto Anti-Silêncio na Câmara de Coimbra” (que se anexa) e de uma petição que está on line em: 
http://www.peticao.com.pt/ver-assinaturas.html?peticao=1397 e que já foi assinada por mais de trezentos cidadãos, reina o silêncio.

Agradeço ao Sr. Presidente a atenção dispensada e solicito a entrega de cópias desta carta e do documento a ela anexo a todos os membros da Comissão.

Nota: Carta enviada nesta data por correio electrónico.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

A ARTE DA PRUDÊNCIA - 29

Ser íntegro.

É necessário estar sempre do lado da razão com tanta convicção que nem a paixão do vulgo, nem a força da violência obriguem jamais a transpor a fronteira da razão. Mas quem será esta fénix da equidade? A integridade tem poucos seguidores constantes. Muitos a elogiam, mas não em sua casa. Outros seguem-na até perigo: ali, os falsos negam-na e os políticos encobrem-na. Ela não tem inconveniente em opôr-se à amizade, ao poder, e mesmo à própria conveniência: este é o momento crítico para a ignorar. Os astutos estabelecem distinções com aplaudidas subtilezas para não a maltratar, quer por motivos superiores, quer por razões de Estado. No entanto, o homem constante considera a dissimulação uma traição e dá mais valor à tenacidade que à sagacidade; está do lado da verdade e, se se afasta dos outros não é por inconstância, mas porque eles abandonaram a verdade primeiro.

A Arte da Prudência
Baltasar Gracián

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

SÃO MESMO JORNALISTAS?

É pena que as audições na Comissão de Ética da Assembleia da República não sejam transmitidas pelas televisões em sinal aberto. Seria um excelente contributo para todos percebermos a qualidade e o nível de determinados protagonistas e de avaliarmos devidamente a seriedade e credibilidade dos seus depoimentos. Se o espectáculo de Mário Crespo a  gritar censura e a distribuir um artigo de opinião pelos Deputados deu para perceber alguns dos seus méritos "artísticos", o depoimento da jornalista Felícia Cabrita foi qualquer coisa de inenarrável.

Contrariamente ao que os partidos da oposição esperariam, particularmente o PSD, o resultado das audições tem vindo a evidenciar a absoluta inconsistência das acusações contra o PS, o governo e particularmente contra o primeiro ministro José Sócrates, no que toca à tão propalada estratégia de domínio da comunicação social e de cerceamento da liberdade de expressão e de informação. 

Aliás, ou me engano muito ou vai ser o PSD quem vai sair politicamente mais chamuscado com esta iniciativa, sobretudo quando se vier a tocar na entourge do Presidente Cavaco Silva.

Por outro lado, ao desgaste da política e da justiça, tão veemente propalados, vai-se somar o desgaste da comunicação social, também ela um elemento fundamental de qualquer regime democrático. 

Com a revelação perante os olhos de todos do nível de "isenção" e de "objectividade" de jornalistas destes, que assumem a permanente revelação de "verdades" inconvenientes e opiniões "puras", é mais uma peça do puzzle do sistema de poderes que se descredibiliza e enfraquece, o que é mau. 

O país precisa de uma comunicação social forte e independente e isso só é possível com verdadeiros jornalistas. 

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

A ARTE DA PRUDÊNCIA - 28

 Em nada ser vulgar. Não o ser no gosto.

Que grande sábio, aquele que não gostava que as suas coisas agradassem a muitos! Os excessos de aplauso popular não satisfazem os discretos. Alguns são como os camaleões da popularidade, de tal forma que o seu prazer não reside nas suavíssimas brisas de Apolo, mas no alento vulgar*. Tão pouco ser vulgar no entendimento. Não se deve desfrutar com os milagres do vulgo, pois são simplesmente "espanta-ignorantes": o vulgo admira a necedade comum e repudia o conselho excelente.

*Antigamente acreditava-se que o camaleão se alimentava do ar.
A Arte da Prudência
Baltasar Gracián

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

O COMPROMISSO HISTÉRICO

Quando o Dr. Alberto João sai da Quinta Vigia e nos invade a casa através da televisão, colocam-se-nos como alternativas, ente outras: 1. Desligar a televisão; 2. Olhar para a televisão e, assim como quem palita os dentes depois de comer bacalhau, não ouvir nem ver nada; 3. Vê-lo, ouvi-lo e rir; 4. Vê-lo, ouvi-lo e chorar; 5. Ir passear o cão, quem tiver cão, claro.

Na passada semana, quem não adoptou uma das alternativas acima indicadas e o viu e ouviu por fair-play democrático, não deixou de ficar a pensar nas reacções que a sua proposta de “Compromisso Histórico” para derrubar o governo, iria provocar.

O PSD, CDS, BE e PCP tinham votado conjuntamente alterações à Lei das Finanças Regionais e isso permitia-lhe pensar que essa conjugação política poderia ser continuada numa perspectiva mais ampla e consistente e daí a tal ideia do "Compromisso Histórico".

O comum dos cidadãos, ouvida esta proposta, esperava que segundos depois o Dr. Francisco Louçã inundasse a comunicação social, em tom de prédica, a dizer que o Bloco é pela verdade, não pactua com a hipocrisia e que nunca aceitará qualquer compromisso com a direita dos banqueiros.

De igual modo imaginava-se que alguém do Comité Central do PCP, pelo menos Jerónimo de Sousa, viesse a correr esclarecer que era mais fácil acreditar no milagre de Fátima do que num compromisso do PCP com a direita do grande capital.

Mas não. A frustração foi total. Nem o Dr. Louçã nem Jerónimo de Sousa se dignaram dizer-nos nada sobre o assunto. Ainda houve quem aguardasse alguns minutos e depois se lançasse na net em busca de informação. Nada.

Fica a dúvida. Ninguém liga ao Dr. Alberto João, apesar de lhe dar mais dinheiro. A análise da sua proposta está acorrer o seu caminho e BE e PCP vão considerar a sua participação no tal compromisso com o PSD e o CDS. Ou terão ido todos à Madeira passar o Carnaval.

Para já podemos tirar uma conclusão. Desde o início da actual legislatura há na Assembleia da República um verdadeiro “Compromisso Histérico”, que se traduz no revisionismo vingativo contra o PS só porque este não conseguiu repetir a anterior maioria absoluta.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

DIÁLOGOS NA CÂMARA - VIII

Então viu aquelas imagens do Carnaval na Madeira? - atirou de chofre o presidente assim que o vice-presidente entrou no seu gabinete. E continuou - O Alberto João faz-me inveja. Sabe, tenho por ele uma grande admiração.

- Vi sim, senhor presidente- respondeu, um pouco atarantado, o vice-presidente.

- Pois olhe, meu caro, estou a pensar que a Câmara também deve organizar um corso carnavalesco. Vamos ter de pensar nisso a sério - acrescentou o presidente, com um olhar distante e profético.

- Mas sabe, senhor presidente -  retorquiu o vice-presidente - nós não temos tradição, o tempo nem sempre ajuda, temo que possa ser um fiasco e não apareça ninguém.

- Quanto ao tempo tem razão, mas quanto à participação não estou de acordo. Basta que se dê instruções ao nosso pessoal aqui na Câmara, nos Serviços e Empresas Municipais para que se constituam vários grupos e se faça um bom desfile - afirmou o presidente. 

- Mas se assim é, se é essa a vontade do senhor presidente, temos de começar a preparar as coisas quanto antes - disse sem convicção o vice-presidente e acrescentou - E o senhor presidente também vai desfilar, como faz o Dr. Alberto João?

- Mas claro. São momentos que não podemos deixar de aproveitar.

Fez-se silêncio e, passados alguns momentos, o presidente acrescentou - E até já sei como é que vou mascarado.

Sem esconder o seu espanto o vice-presidente apressou-se a perguntar - Ah sim, e como é?

- Olhe vou mascarado de futebolista - exclamou o presidente.

- De futebolista!? - o vice-presidente arregalava os olhos de espanto - E... e de que equipa?

- Ah isso não digo, o que lhe digo é que o equipamento terá como modelo as camisolas, os calções e as botas de futebol que se usavam há trinta anos. Sabe, meu caro, eu tenho imensas saudades do antigo Estádio Municipal, das bancadas descobertas onde se respirava o ar puro e então da pala na bancada central, onde já faltavam bocados mas que era linda, nem se fala. Tudo aquilo era de uma enorme beleza e grande  conforto. Que saudades. Olhe, eu sempre estive contra um estádio novo. Para mim, a verdadeira modernidade passa pelos centros comerciais. O actual estádio devia ter sido destruído há trinta anos!

O vice-presidente, constrangido, olhava sem saber bem o que dizer. A medo sussurrou - Mas, senhor presidente, o estádio só tem seis anos...

- Ora deixe-se lá de confusões com datas. Vamos, mas é, pensar nisto e, já agora, peço-lhe que não se esqueça de que um dos convidados de honra vai ser aquele nosso companheiro que media estádios com uma grua e punha publicidade nos camiões TIR com nomes antigos. A esse, pela sua experiência, vamos propor que organize um trem eléctrico - concluiu o presidente. 

O vice-presidente, preso de movimentos, não sabia o que pensar naquela fria manhã.

Nota: Qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência

UMA DÚVIDA NO DIA DE CARNAVAL

 
Depois do falhanço das previsões sobre a gripe A - bendito falhanço - parece que vamos ter outro falhanço no que toca à recomposição do PSD com a eleição de uma nova direcção política e particularmente de um novo presidente.

Os sinais não auguram nada de positivo como o Presidente Cavaco Silva já percebeu, vendo-se obrigado a mandar um recado público através do mandatário da sua campanha eleitoral.

Vamos ver o "espectáculo" que aí vem com os Congressos e o resultado da eleição mas o que, para já, parece evidente é que as divisões internas tenderão a acentuar-se, como de há muito o Professor Marcelo notou e que o levou a dizer que com ele só uma solução de unidade. Uma solução prévia, não a unidade que se proclama sempre depois das eleições por quem ganha mas que raramente acontece.

Surpreendentemente quem estará mais preocupado com a situação até será Paulo Portas porque a vitória de Pedro Passos Coelho ou de Paulo Rangel levará a uma disputa mais acesa no espaço mediático que  é o seu e estes candidatos podem retirar-lhe aí algum protagonismo.

Mas como em política e no PSD em particular, há reviravoltas surpreendentes. 

Vamos aguardar para ver.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

VITOR CONSTÂNCIO VICE-PRESIDENTE DO BANCO CENTRAL EUROPEU

Vitor Constâncio vai assumir a vice-presidência do Banco Central Europeu e por isso merece parabéns. 

Quer queiram quer não é o reconhecimento internacional da sua competência e capacidade para o desempenho de funções de grande exigência numa das mais importantes instituições europeias.

Para os medíocres, que tanto o atacaram, não é uma mas várias bofetadas de luva branca, até pelas funções que ali vai exercer.

Os invejosos apenas se irão preocupar em dizer que vai ganhar mais do que já ganhava no Banco de Portugal.

Os incompetentes, que não suportavam o seu mérito, disfarçarão a sua satisfação falando de jogos de bastidores.

Quem conhece as suas qualidades pessoais e o seu mérito profissional perguntará por que é que os melhores vão indo embora?

Como Eça e tantos outros, a resposta será: Para fugir desta piolheira.

O NEGÓCIO NA CIMPOR E A UNIDADE FABRIL DE SOUSELAS

Confesso que a compreensão do negócio que envolve as cimenteiras, nomeadamente o que está em curso na Cimpor, implica o conhecimento de diversos elementos de negócio e de múltiplas variáveis que só os conhecedores mais profundos nestas matérias dominarão.

Lembro, contudo, ao ler as notícias sobre o assunto o que aconteceu, em tempos, com as cervejeiras  e que levou ao desaparecimento da Fábrica da Cerveja de Coimbra, que produzia a saudosa Cerveja Topázio.

É verdade que o tipo de negócio é diferente e que os factores de produção e comercialização não são comparáveis, mas as movimentações que se desenvolvem na área das cimenteiras e as suas implicações concretas, devem levar os decisores políticos, concretamente os autárquicos, a não se distraírem.

A unidade fabril da Cimpor, em Souselas, tem sido particularmente visada por más razões, no campo ambiental, esquecendo o seu contributo económico.

É bom ter presente que a  fábrica de Souselas é particularmente relevante na economia do Concelho, extremamente importante em termos de emprego e será, porventura, a maior contribuinte em impostos directos, no caso a derrama, para as finanças municipais.

Depois do que se tem passado em Coimbra, na área industrial e da distracção da Câmara para com estas questões - lembre-se por exemplo o caso da Marcopolo que até foi utilizada como arma política de apoio ao Dr. Carlos Encarnação em 2001 e que se foi embora da maneira que foi  - era bom  estar alerta, perceber qual a estratégia que se desenha para a Cimpor e as sua implicações na unidade fabril de Souselas.

Quem avisa ...

LIBERDADES

Temos sido confrontados, por estes dias, com um aceso e imprevisto debate sobre liberdades: a liberdade de expressão, a liberdade de imprensa, a liberdade do crime de violação do segredo de justiça, a liberdade de suspeição, a liberdade de insulto, etc. havendo quem diga, no meio de toda esta discussão, que não há liberdade.

E por que é que chegámos aqui, a uma discussão que parece surreal, e quem beneficia com tudo isto?

Duas respostas, pelo menos duas, parecem evidentes. A primeira tem a ver com a fraca qualidade da maioria dos actores políticos que, através de um processo de selecção perverso, ascenderam aos diversos níveis partidários e de poder. A segunda, o interesse de um certo poder económico que sabe melhor do que ninguém aproveitar a confusão e as fragilidades do poder político para realizar os seus negócios em paz.

Se a este quadro adicionarmos uma pitada de luta empresarial, particularmente a que se regista no campo dos media, teremos algumas das explicações para a confusão reinante e para as cenas de opereta de ver na abertura dos telejornais um casal "mediaticamente impoluto" a pedir a demissão do primeiro ministro - como se representassem os cidadãos deste país e os substituíssem em nome da liberdade da sua opinião -, e ouvir  a proposta hilariante do presidente do Governo Regional da Madeira da constituição de um governo de "Compromisso Histórico", surgido de um acordo entre o PSD, o CDS, o BE e a CDU, mas que radica em surpreendentes votações convergentes destes partidos.

Pois bem, a discussão sobre liberdades mais não reflecte que a existência de liberdades e um conjunto de manobras de diversão políticas e económicas que eventualmente se entrecruzam.

O resultado final é, contudo, dramático para todos nós, porque nos prejudica colectivamente, nos distrai do essencial e nos desmobiliza perante os problemas reais com que nos confrontamos.

Mas somos assim e amanhã recomeçaremos uma outra discussão absurda, cheios de comiseração por nós próprios por não sermos capazes de convergir em termos de desenvolvimento, que invejamos, com os nossos vizinhos europeus, ainda que os ultrapassemos em número de telemóveis, de caixas multibanco e, decerto, de  fóruns mediáticos de propensão masoquista.

CARNAVAL E MÚSICA


Com este tempo de lareira é difícil o apelo ao samba. Como alternativa é de ouvir o Carnaval, OP.9 de Schumann ou então, como pessoalmente prefiro, o Carnaval dos Animais de Camille Saint-Saëns, de que acima se reproduz a capa de um CD que se recomenda.

A ARTE DA PRUDÊNCIA - 27

É melhor o intenso que o extenso.

A perfeição não consiste na quantidade, mas na qualidade. O muito bom sempre foi pouco e raro: utilizar muito o bom é abusar. Mesmo entre os homens, os muito grandes costumam ter o cérebro pequeno. Alguns apreciam os livros pela sua corpulência, como se fossem escritos para exercitar mais os braços que a inteligência. O extenso, por si só, nunca conseguiu ir mais além da mediocridade, e é uma praga doas homens universais que , por quererem abranger tudo, não abrangem nada. O intenso proporciona eminência, e fama, se o tema for muito importante.

A Arte da Prudência
Baltasar Gracián

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

COIMBRA E O EURO 2004. A VERDADE A QUE TEMOS DIREITO.

A comunicação social tem vindo a dar conta da utilização e dos encargos com os estádios que foram construídos no âmbito do EURO 2004.

Inexplicavelmente têm sido referidos 10 estádios quando isso não corresponde à verdade, assim como têm sido apontados custos e modos de exploração incompletos. Isto sem falar nos benefícios decorrentes da realização do referido evento desportivo, o que não permite uma avaliação correcto de tudo o que esteve e está em causa.

Mas vamos ao número de estádios e à participação de Coimbra.

Na verdade a realização do EURO 2004 no nosso país levou à construção de 11 estádios, ainda que a candidatura apresentada à UEFA contemplasse apenas 10 estádios. O 11.º estádio, construído na altura, foi o Estádio Sérgio Conceição, em Taveiro.

Enquanto noutras cidades foi possível encontrar soluções para a realização dos jogos das equipas que utilizavam os estádios em reformulação em Coimbra, isso não aconteceu. Enquanto, por exemplo, o União de Leiria jogava na Marinha Grande, em Coimbra, a Académica não podia jogar noutro sítio a não ser mesmo em Coimbra e por isso, apesar de haver aqui um Estádio Universitário que poderia ter sido melhorado, como bem precisava e precisa, entendeu que a melhor solução era construir mais um novo estádio e assim surgiu o 11.º estádio.

Foi um estádio – definido como uma “obra exemplar” pelo Dr. Carlos Encarnação –, construído de forma sui generis: em terrenos privados com uso previsto em PDM para fins diferentes; com base num protocolo especial que acabou por não ser cumprido tal como foi acordado; num modelo chave na mão; e sem que tenha havido qualquer estudo de enquadramento e de planeamento das acessibilidades.

Foi um estádio construído por um presidente que criticava as verbas que estavam a ser gastas com a renovação do Estádio Municipal e que mereceu a honra da presença na sua inauguração do ministro de um governo que contestava os custos com novos estádios, o Dr. Marques Mendes.

Houve festa grossa, o estádio foi baptizado Sérgio Conceição, sem se perceber bem porquê – ainda hoje não se percebe –, foi pago única exclusivamente pela Câmara, que nessa altura tinha dinheiro graças às disponibilidades financeiras que tinha herdado do Executivo anterior, e foi “acrescentado” durante meses com bancadas amovíveis alugadas, o que levou a que no total tenha custado cerca de um milhão de contos.

O Dr. Carlos Encarnação que tanto fala das obras do Estádio Municipal, contra as quais estava pelos seus custos, esconde sempre esta construção e os seus custos.

Mas o Dr. Carlos Encarnação também esconde outras coisas – decisões exclusivamente suas – correlacionadas com todo este processo. Primeiro nunca fala nos benefícios para a cidade pela participação no EURO 2004. Depois nunca diz que fez três inaugurações do Estádio Municipal renovado – o tal seu ódio de estimação –, que rebaptizou como Estádio Cidade de Coimbra.

Mais, esquece-se sempre de dizer que adjudicou através de um “estranho” concurso o Projecto EuroStadium, com o argumento de que se destinava a salvar as finanças da Câmara e, finalmente, esquece-se de dizer que com base nesse famoso Projecto permitiu a destruição de um espaço consolidado da cidade – a Praça Heróis do Ultramar – e a construção de um centro comercial e de apartamentos privados – mais de duzentos – em terrenos municipais. 

Também nunca fala nos encargos assumidos com infra-estruturas necessárias ao Centro Comercial e aos apartamentos e quem as pagou, nem nas mais valias que o promotor privado conseguiu com o uso de terrenos municipais e que terão sido de alguns milhões de euros.

Anda de novo o Dr. Carlos Encarnação a clamar contra os custos do Estádio, que passou a Estádio Finibanco por iniciativa da Académica, a quem “entregou” o Estádio quando o seu presidente era director municipal do urbanismo e que agora até quer construir um novo estádio, e por quê? Por que é que o Dr. Carlos Encarnação anda tão afobado a falar dos custos do Estádio?

A resposta é simples. O Dr. Carlos Encarnação deu cabo das finanças da Câmara, já renegociou uma ou duas vezes o empréstimo para as obras do Estádio, que teria sido bem menor se não tem construído a sua obra exemplar em Taveiro, e quer arranjar uma desculpa para os seus clamorosos erros de gestão que levaram às dificuldades financeiras que a Câmara vai sentindo com maior intensidade.

Sobre todos estes processos e ainda sobre o modelo e as implicações da cedência do Estádio Cidade de Coimbra ou Estádio Finibanco à Académica – que será até 2014 – era fundamental fazer uma auditoria profunda e circunstanciada para que se ficasse a saber, com clareza, afinal tudo o que se passou em Coimbra à volta deste processo e das suas consequências para a futura gestão autárquica, a que o Dr. Carlos Encarnação já não pertencerá.

Era fundamental conhecer toda a verdade sobre estes processos e verificar os fundamentos de gravosas decisões para a cidade que utilizam a participação de Coimbra no EURO 2004 como bode expiatório.

Os munícipes de Coimbra precisam de saber a verdade sobre tudo isto.

(Artigo publicado no Diário de Coimbra, em12 de Fevereiro de 2010)

 
Está disponível para subscrição on line uma:

Petição Pela Verdade Sobre o Euro 2004 em Coimbra 

http://www.peticaopublica.com/PeticaoVer.aspx?pi=P2010N1256

A ARTE DA PRUDÊNCIA - 26


Descobrir o ponto fraco de cada um.

Esta é a arte de estimular as vontades. É mais destreza que determinação. É saber por onde se há-de chegar a cada um. Não há vontade que não tenha uma inclinação especial, que varia segundo os gostos. Todos idolatram ou a estima ou o interesse, e, a maioria, o prazer. A manha é conhecer estes ídolos que tanto motivam. Conhecer o impulso eficaz para cada um é como ter a chave da vontade alheia. É necessário ir ao primeiro móbil, que nem sempre é o mais importante, mas é, a maior parte das vezes o mais baixo, pois no mundo há mais desordenados que disciplinados. Primeiro é preciso conhecer o carácter, depois atingir o ponto fraco, insistir nele, pois infalivelmente ficará sem vontade própria. 

A Arte da Prudência
Baltasar Gracián

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

PETIÇÃO: PELA VERDADE SOBRE O EURO 2004 EM COIMBRA

Pelas razões e com os fundamentos nela constantes está à disposição, para assinatura, em: www.peticaopublica.com  

Petição Pela Verdade Sobre o Euro 2004 em Coimbra

 http://www.peticaopublica.com/PeticaoVer.aspx?pi=P2010N1256

O presidente da Câmara de Coimbra, Dr. Carlos Encarnação, tem manifestado, repetidamente, a sua discordância com a participação de Coimbra no EURO 2004, nomeadamente pelos encargos originados pela renovação do Estádio Municipal.

A ideia que transmite para a opinião pública é de que foi um investimento ruinoso para a cidade e de que as dificuldades financeiras com que a Câmara se debate, desde que é seu presidente, são culpa dos encargos com as obras no Estádio.

Com o objectivo confesso de “salvar as contas da Câmara” e de obter diversas contrapartidas, o Dr. Carlos Encarnação, adjudicou a um Grupo privado o Projecto EuroStadium, donde resultou a construção de um Centro Comercial e mais de 200 apartamentos privados em terrenos municipais adjacentes ao Estádio, de que terão resultado mais valias para o promotor estimadas em alguns milhões de euros.

Apesar da sua “visão” catastrófica sobre os custos inerentes à participação de Coimbra no EURO 2004, e aos custos com estádios, a primeira obra lançada pelo Dr. Carlos Encarnação - que classificou como “obra exemplar” –, foi a construção de um novo estádio em Taveiro – Estádio Sérgio Conceição.

Este estádio, que foi feito em terrenos privados, sem qualquer planeamento e pago na íntegra com dinheiros municipais, terá custou cerca de 1 milhão de contos à Câmara de Coimbra (não se conheçam os valores exactos), mas o Dr. Carlos Encarnação omite sempre esta sua decisão e este encargo.

Por outro lado, o Dr. Carlos Encarnação já renegociou o empréstimo feito para financiar as obras do Estádio Municipal, entretanto rebaptizado como Estádio Cidade de Coimbra, sendo importante conhecer em que termos, dado que atirou para Executivos futuros responsabilidades financeiras, porventura acrescidas.

Entretanto “entregou” à Académica/OAF o Estádio Cidade de Coimbra – que por sua vez o rebaptizou como Estádio Finibanco –, com base num processo que tem levantado algumas dúvidas e suscitado conflitualidades institucionais.

Na avaliação do EURO 2004, feita pelo Dr. Carlos Encarnação, têm sido única e exclusivamente referidos os encargos financeiros directos envolvidos com as obras no Estádio, contudo, haverá estudos sobre as mais valias resultantes para o País e, neste caso, para Coimbra que é importante conhecer para avaliar com justiça e rigor o mérito do referido evento desportivo.

Assim, vem-se pedir publicamente à Câmara de Coimbra que apresente na próxima reunião da Assembleia Municipal – órgão legislativo e de fiscalização da Câmara –, um dossier sobre o “EURO 2004 em Coimbra” onde conste:

a) Custos finais das obras de renovação do Estádio Municipal de Coimbra;

b) Valor da comparticipação recebida do Governo para as obras;

c) Valor do empréstimo celebrado com entidade bancária para financiamento da obra e subsequente renegociação das condições, com indicação do período de vigência e do período de carência;

d) Valor das contrapartidas recebidas no âmbito do Projecto EuroStadium, bem com dos encargos assumidos com infra-estruturas para construção do Centro Comercial e dos apartamentos privados e da entidade que foi responsável pelo seu pagamento; 

e) Encargos assumidos com a construção do Novo Estádio – Sérgio Conceição e divulgação dos compromissos assumidos com os privados onde o Estádio foi construído;

f) Valor das mais valias para o Município de Coimbra face à sua participação no EURO 2004;

g) Divulgação do Acordo celebrado pela Câmara com a Académica/OAF para utilização/exploração do Estádio Cidade de Coimbra ou Estádio Finibanco e que vigorará até 2014.

Pede-se, finalmente, ao Sr. Presidente da Assembleia Municipal que o referido dossier seja tornado público e facultada a sua consulta por todos os interessados.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

A ARTE DA PRUDÊNCIA - 25

Ser bom entendedor.

Saber raciocinar era a mais elevada das artes; já não é suficiente: agora é necessário adivinhar, sobretudo em assuntos que podem decepcionar. Não pode ser entendido quem não for bom entendedor. Há adivinhos do coração e linces das intenções. As verdades que mais nos importam vêm sempre por meias palavras. O prudente deve saber entendê-las: refreia a credulidade nas coisas favoráveis e estimula-a nas odiosas.
A Arte da Prudência
Baltasar Gracián

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

FALTA ALMA AO PS


É óbvio o meu desencanto com o que se vem passando no PS Coimbra nestes últimos anos. Tenho-o dito e escrito. Aliás, tenho-me perguntado, repetidas vezes, porque continuo a ser militante. Talvez porque lá no fundo continue a acreditar que o projecto político de solidariedade, fraternidade e desenvolvimento, que ambiciono, para o país e para a minha cidade só será possível com o PS e através do PS. No entanto, a cada dia que passa, não vislumbro motivos de esperança, nem expectativas de que as coisas se alterem.

A nível local desde há muito que entendo que só com uma ruptura profunda com as práticas políticas e uma mudança significativa de dirigentes é possível uma “regeneração” e uma retoma de credibilidade.

O que leio e vejo nestes momentos preparatórios de uma nova disputa concelhia não me deixam, para já, acreditar que essa ruptura venha a acontecer.

Como partido de oposição à gestão autárquica o PS não existe, como aliás seria de prever. Há autarcas do PS que dão o seu melhor mas partidariamente há um vazio. Dir-se-á que este é um tempo pré-eleitoral e que depois é que vai ser. Tenho dúvidas, mas logo se verá.

A nível nacional é evidente que o PS se deixou, de alguma forma, aprisionar por casos menores e não tem tido a capacidade de resposta política que se impunha. Dir-se-á que o epicentro das dificuldades está no Governo. Não deixa de ser verdade, assim como não deixa de ser verdade que é nestes momentos que se ganha o futuro porque neles se vê verdadeiramente a capacidade política colectiva e a competência partidária.

As questões à volta da ausência de ética, de envolvimento em “negócios” perigosos, de conflitualidade com a imprensa e de tentativas de a condicionar, são razões mais que suficientes para uma profunda preocupação. A sorte é não haver uma Oposição mas oposições e, espantosamente, estarmos em crise. Mas estas são más razões para ter sorte.

Por mais que alguns não queiram, reina a confusão e há um acantonamento partidário por parte do PS, remetido a uma obrigação de resposta mas sem capacidade de antecipação e de liderança política.

O PS não demonstra ter uma agenda política convincente, perceptível pelos cidadãos, para enfrentar a crise e dar-lhe a adequada resposta de esquerda, que tantos desejariam.

Podemos evidenciar, sem grande dificuldade, as debilidades dos nossos adversários políticos, as contradições e a inconsequência da sua prática política, mas  subsiste a dificuldade de sermos convincentes na apresentação de uma verdadeira resposta de esperança e de combate ao desencanto que vai grassando. 

Há uma ausência de combate por valores e, por vezes, um zizaguear em questões essenciais que fragilizam e desmobilizam vontades e combatentes.

Falta alma ao PS!

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

A ARTE DA PRUDÊNCIA - 24

Moderar a imaginação é o essencial para a felicidade.

Umas vezes é necessário refreá-la e outras ajudá-la: o bom senso faz o ajuste. às vezes torna-se tirana: não se contenta com especular, mas age e apropria-se da vida, tornando-a agradável ou penosa, sonsoante a sua vontade, criando pessoal descontentes ou satisfeitas consigo próprias. Para alguns, como um verdugo doméstico dos tolos, representa contínuas penas; para outros, propõe felicidades e aventuras com fútil presunção. Tudo isto pode a imaginação, se não a refrearem a prudência e o bom senso.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

A MÚSICA É UM PRIVILÉGIO DA CIVILIZAÇÃO




Frédéric Chopin


Ouvi há dias alguém dizer que a música é um privilégio da civilização.

Este ano celebramos os 200 anos do nascimento de dois grandes músicos: Frédéric Chopin (1 de Março de 1810) e Robert Schumann (8 de Junho de 1810). 

É por isso um bom ano para ouvirmos algumas das obras destes dois grandes compositores. Gozemos esse privilégio.

De Chopin recomendo vivamente o CD em que Maria João Pires interpreta The Nocturnes. De Schumann e atendendo à época sugiro Carnaval, OP.9.

Tenha-se presente que, como dizia Miguel Cervantes no seu Dom Quixote, "Onde há música não pode haver coisa má."



Robert Schumann 

DIÁLOGOS NA CÂMARA - VII

- Sabe, meu caro - começou o presidente -, andaram para aí a escrever páginas e páginas sobre corrupção, armados em cientistas da coisa, e a fazer um dito plano de prevenção que não vai resolver nada. É só perder tempo.

- Mas, senhor presidente, temos essa obrigação legal, como bem sabe, e depois há sempre alguma coisa que ajuda a prevenir tentações - respondeu confuso o vice-presidente, que não estava a perceber por que razão o presidente o tinha chamado e lhe falava com aquele ar agastado.

- Olhe o que me espanta é a vossa ingenuidade - retorquiu o presidente. Eu tenho muito mais confiança no meu método, porque, como sabe, a corrupção envolve uma enorme gestão de risco e eu fui sempre alguém que teve muito cuidado com o risco.

- Mas, senhor presidente, sendo assim podemos incluir no nosso plano o seu método, para melhorar a nossa proposta - disse o vice-presidente com um ar satisfeito.

- Tenho de pensar nisso. Sabe, também não podemos estar sempre a ensinar tudo. Aliás  todas essas coisas já deviam ter sido feitas há mais de trinta anos, ou melhor trinta e três anos - sublinhou o presidente.

- Trinta e três anos...? - questionou, intrigado, o vice-presidente.

- Sim, meu caro. Foi com essa idade que Cristo foi crucificado e eu sinto-me um verdadeiro Cristo no meio disto tudo.  Sabe, a minha teoria é que a corrupção só se combate através da análise dos sinais exteriores de riqueza - respondeu, convicto, o presidente.

- Mas, senhor presidente, o que está em causa é um plano de prevenção interno. Não é uma investigação policial -  disse o vice-presidente.
 
- Olhe, é tudo a mesma coisa. Veja - começou o presidente, com ar concentrado - o importante é olhar com atenção para todos os funcionários e ver como andam vestidos. Por exemplo: a qualidade e o corte do fato; tipo do colarinho da camisa; botões normais ou botões de punho; desenho da gravata; tipo de sapatos; etc. Depois era importante saber quantos carros têm e qual a gama, assim como investigar se vivem em apartamentos ou moradias e se têm mais do que uma casa. Também era muito importante saber o tipo de animais de estimação que têm - concordará comigo que não é a mesma coisa ter um canário ou um pastor alemão. Tudo aquilo que indicie riqueza deve ser devidamente analisado. E então no que toca às funcionárias o rigor deve ser ainda maior: brincos; anéis;  gargantilhas; pulseiras. Tudo isso deve ser devidamente analisado.
 
- Mas, senhor presidente, isso é impossível...

- Qual quê, meu caro. Digo-lhe mais. Por exemplo, quando pensarmos num dirigente devemos ter em atenção o clube. Veja, era impensável admitir o presidente do Benfica ou do Porto. Mesmo o do Sporting levantaria dúvidas, agora de outra equipa já seria aceitável. Vá por mim. É através da análise dos sinais exteriores de riqueza que podemos evitar a corrupção aqui na Câmara. E, um conselho final, gravatas de seda e sapatos tipo inglês são sempre de suspeitar - concluiu taxativo o presidente.

O vice-presidente não acreditava no que estava a ouvir. Olhou para os sapatos e para a gravata. Fechou o botão do casaco e saiu em silêncio.

A ARTE DA PRUDÊNCIA - 23

 Não ter um defeito.

É  nosso destino ter defeitos. Poucos vivem sem eles, no plano moral como no do carácter. Dominam-nos, apesar de ser fácil curar-se. O bom senso dos outros sofre, porque por vezes um conjunto sublime de boas qualidades tem um defeito mínimo: basta uma nuvem para eclipsar o sol. A malevolência ergue-se de imediato e ainda repara nestas nódoas da reputação. Seria uma grande habilidade convertê-los em motivo de estima. César soube cobrir de louros a sua calvice.

A Arte da Prudência
Baltasar Gracián

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

CONFUSÃO

A expectativa segue-se à confusão que se tem vivido nestes últimos dias, com graves consequências para todos nós, relativamente às alterações da Lei das Finanças Regionais. 

Há posturas políticas incompreensíveis e números controversos.

Manuela Ferreira Leite foi chamada a São Bento. Alguma coisa vai acontecer.

Para já está provada a vantagem de temos um governo minoritário, como foi tão ferozmente defendido nas passadas eleições legislativas.

Depois de toda esta confusão outra confusão virá.

PREVENÇÃO DA CORRUPÇÃO


A Câmara de Coimbra aprovou, tarde e más horas, o seu Plano de Prevenção da Corrupção. 

Segundo a comunicação social o presidente da Câmara afirmou que o objectivo principal daquele instrumento é "a melhor prestação de um serviço público através da gestão do risco". 

O que quer isto dizer?

Só me pergunto se o dito Plano contempla mecanismos de salvaguarda da contratação de clientelas partidárias e de presidentes de clubes de futebol para dirigirem a área do urbanismo?