sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

A ARTE DA PRUDÊNCIA - 79


 Carácter jovial.

Com moderação, é uma qualidade e não um defeito. Um pouco de graça a tudo dá sabor. Os homens maiores também movem a peça do donaire, que atrai a estima de toda a gente. Mas respeitando a prudência e guardando o decoro. Outros fazem de uma graça o atalho para sair airosamente de um problema, pois há coisas que devem levar-se na brincadeira, mesmo aquelas que, por vezes,  o outro leva mais a sério. Indica aprazibilidade e é um encantamento para os corações.

A Arte da Prudência
Baltasar Gracián


quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

PREVISÕES


Não me recordo de nas previsões astrológicas para 2010 ter havido videntes suficientemente competentes para adivinhar o tão vasto naipe de acontecimentos que tiveram lugar, neste ano, em Coimbra.

Pelo menos não me recordo do anúncio, por força da conjugação astral ou das cartas do tarot, de três grandes derrotas que marcaram o ano. A primeira, a do Metro Mondego, pela impotência demonstrada por Coimbra perante o abandono do projecto pelo governo. A segunda, a do Dr. Carlos Encarnação, em fuga da Câmara, num ataque de pânico, face  à consciência das consequências desastrosas da sua gestão. Finalmente a do PS a nível distrital, paralisado pela derrota dum vencedor imposta pela vitória do vencido.

Primeira conclusão: é difícil fazer previsões para Coimbra!

Pode-se e deve-se, apesar disto, ter uma visão prospectiva para Coimbra, ainda que de curto prazo, e tentar equacionar um cenário que, à luz dos elementos existentes, é de óbvia anarquia paralisante, com a Câmara a caminhar simpaticamente para o caos, os principais partidos políticos com objectivos baralhados e as câmaras de vigilância entretidas com uma Baixa cada vez mais vazia e abandonada.

Segunda conclusão: é fácil fazer previsões para Coimbra!

De acordo com estas conclusões, e sem ser necessário deitar os búzios, é possível prever que em Coimbra, em 2011, continuará a faltar uma liderança forte, um discurso ético consequente e uma acção política determinante à sua defesa e desenvolvimento.

Restamos nós, que este ano não temos procissão da Rainha Santa, a lavar as nossas mágoas na certeza de que nos falta cada vez mais futuro e nos sobra cada vez mais mediocridade.
 

INGRATIDÃO


Diz-se, e com razão, que em política não há gratidão.

No entanto há momentos em que seria da maior justiça expressar publicamente alguma gratidão por comportamentos políticos particularmente relevantes, para mais em tempos de fraternidade natalícia.

Vejamos. Não seria bonito a CDU ou o PCP, é absolutamente indiferente, agradecer publicamente ao Dr. Carlos Encarnação todas as atenções recebidas durante a sua presidência na Câmara de Coimbra. Cooperaram estrategicamente, nadaram juntos, politicaram juntos, tendo inclusivamente a CDU ou o PCP, é absolutamente indiferente, recebido "pendão e caldeira" do ex-presidente da Câmara, que agora viu partir sem um furtivo agradecimento que fosse por tudo o que um verdadeiro "compagnon de route" lhe deu?!

É, aliás estranho este silêncio quando há uns anos atrás a CDU ou o PCP, é absolutamente indiferente, se fez representar por um seu vereador numa sentida homenagem a um ex-governador civil do PSD que, por coincidência era o mais encarniçado opositor do metro e que hoje, em tempo de expectativas no seu PSD, sobre um futuro candidato à Câmara de Coimbra, assume uma tonitruante  liderança motorizada a favor do metro. Como são as coisas!

Por outro lado não teria sido bonito ver o Dr. Carlos Encarnação agradecer ao Dr. Victor Baptista os preciosos contributos estratégicos e práticos que deu para a sua eleição, para a sua reeleição e para a sua misteriosa gestão autárquica?!

Em política diz-se, e com razão, que não há gratidão, mas não há nada que diga que não deve haver memória.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

FESTA DE DESPEDIDA


Confirmando o boato de que a demissão do presidente da Câmara de Coimbra foi precedida de um concerto natalício, pela coesa equipa que o acompanhava, aqui fica o registo, para memória futura, desse memorável momento.



Nota: A publicação deste vídeo, que me foi simpaticamente enviado, não é mais do que uma homenagem singela aos protagonistas que, a partir deste Natal, vão deixar de tocar juntos. Estou certo que o vão apreciar com fair-play.

domingo, 19 de dezembro de 2010

UMA BEATIFICAÇÃO COMPROMETIDA E UM PRESIDENTE SEM LEGITIMIDADE POLÍTICA


Na sequência da operação mediática de desculpa e martírio realizada pelo demissionário presidente da Câmara de Coimbra é inevitável que o Prefeito da Congregação para a Causa dos Santos seja chamado a abrir um processo de beatificação.

Ao tão vasto sofrimento, que foi amplamente exposto, falta tão só que agora que sejam conhecidos alguns "milagres" para que venhamos a ter mais um "beato" em Coimbra, e logo numa área tão desacreditada como a política.

Como em 1983 foi abolido o Advogado do Diabo,  tudo será, porventura, célere, apesar das dificuldades que se irão levantar quando o titular do processo iniciar a sua investigação porque o "mártir" demissionário presidente começa por se justificar com a má vontade governamental  contra a sua gestão da cidade quando, logo em 2002, é ele que faz o grande apelo público, quando aquele decidiu acabar com o Museu da Ciência e da Técnica: "Deixem governo governar!".

Depois queixa-se da falta de investimento e da atenção do governo quando foi ele próprio que amputou e estrangulou o PólisCoimbra, que era apoiado pelo governo. Acabou com o projecto "Estações com Vida", argumentando que a Estação Nova não podia ser o Fórum Cultural Miguel Torga, que estava previsto. Clamou contra o Euro 2004 e as obras no Estádio, apesar de o ter inaugurado por três vezes e ter gasto milhões de euros num novo Estádio em Taveiro. Mais ainda, aprovou um "espantoso" processo EuroStadium para salvar as finanças municipais, cujos resultados só Deus conhece...

Também, o bondoso instrutor do processo de beatificação, encontrará, nas alegações do "mártir" demissionário presidente, um conjunto de contradições tão vastas e tão evidentes que se sentirá confuso. Olhará  para a voragem despesista que protagonizou, com despesas correntes e a contratação de "pessoal", que o deixará confuso, porque ao mesmo tempo reduzia drasticamente as verbas para a cultura e acusava os agentes culturais de amiguismo...

Contristado o instrutor olhará para outra relevante afirmação de que com a sua saída, diz o "mártir" demissionário presidente, haverá mais coesão no Executivo municipal, quando este tanto trabalhou para essa coesão correndo com diversos dos "seus" vereadores em nome de uma uma unidade política e de acção coesa por parte da maioria que encabeçava. Aliás talvez o argumento da coesão tenha mais a ver com uma questão de poder pessoal e absoluto vazio de visão e estratégia para uma cidade que colocou à deriva.

Por outro lado, o perplexo instrutor, sentirá o drama de saber que o "mártir" demissionário presidente foi eleito contra a co-incineração e ela é um facto e que chegou à Câmara depois de uma afirmada convicção de que era contra o Metro e agora diz que se demite porque não vai haver Metro...

Também lerá, o instrutor do processo, que o "mártir" demissionário presidente deu à estampa, com pompa e circunstância, um livro com o título "O Poder é Solúvel", quando um primeiro ministro se demitiu, em condições políticas particularmente difíceis e agora, num quadro de estabilidade política, apoiado por uma maioria absoluta vê o "mártir" demissionário presidente fugir ao compromisso assumido com os cidadãos de Coimbra. Neste caso o poder é mais do que solúvel...

O mesmo instrutor acabará por se arrepiar com a grosseira violação da ética política, através a nomeação do presidente de um clube de futebol para tutelar a área do urbanismo dando azo a um conjunto de suspeições e de processos judiais como nunca tinha acontecido na Câmara de Coimbra.

Nesta altura o instrutor do processo  começará a pensar na afirmação de Luigi Pirandello "Os facto são como os sacos; quando vazios não se têm de pé." e ficará na dúvida se no meio disto tudo os "factos" apontados pelo "mártir" demissionário presidente não passarão de um monte de nada.

Aliás o instrutor do processo de beatificação temerá se as redundantes justificações de fuga não terão mais a ver com a consciência do "mártir" demissionário presidente que conduziu a Câmara de Coimbra ao descalabro financeiro, à irrelevância política e ao descrédito ético e ao medo de tudo o que vai acontecer em 2011, nomeadamente falta de dinheiro para o essencial, eventual condenação do "seu" ex-director municipal do urbanismo, etc., etc., etc...

Por isto e por muito mais é natural que um desejado processo de beatificação, pelo "mártir" demissionário presidente, acabe comprometido, até porque a sua fuga não vai dar azo a qualquer milagre mas quase certamente a uma instabilidade e confusão que não vai salvar ninguém. É que agora vamos ter um saco de gatos instalado na Câmara, para mais com um presidente de Câmara a quem falta legitimidade política para travar os combates do futuro de Coimbra.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

A ARTE DA PRUDÊNCIA - 78


Começar com pés de chumbo.

A Necedade surge sempre de roldão, pois todos os néscios são audazes. A sua estupidez, que inicilamente os impede de se aperceberem dos inconvenientes, anula-lhes depois o sentimento de fracasso. Mas a Prudência surge com grande tento. Os seus batedores são a Observação e a Cautela; elas vão abrindo caminho para passar sem perigo. Qualquer acção irreflectida será condenada ao fracasso pela Disicrição, embora por vezes seja salva pela Sorte. Convém andar com cuidado onde se teme que a profundidade seja grande; que o prepare a Sagacidade e que a Prudência vá ganhando terreno. Há hoje muitos baixios no trato humano e convém ir sempre com a sonda na mão.

A Arte da Prudência
Baltasar Gracián

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

HÁ COISAS QUE SÓ ACONTECEM AQUI


Há coisas que só acontecem em Coimbra e que por isso a tornam uma cidade tão especial.

Por exemplo: as iluminações de Natal sendo uma iniciativa comum, por esse país fora, em Coimbra têm dado azo a episódios, no mínimo, interessantes.

Quem não se lembra da inauguração das iluminações da Natal em 2002,  com o presidente da Câmara a accionar o interruptor no Largo da Portagem num princípio de tarde, ainda dia, e o lançamento simultâneo de fogo de artificio na margem esquerda, para anunciar as iluminações, sem que ninguém percebesse o que se estava a passar nem tão pouco conseguisse ver os previstos efeitos pirotécnicos, até porque ainda era de dia.

E quem não se recorda da presença vigilante, em vários anos, durante o tempo das iluminações natalícias, de um escadote que se perpetuava na Portagem, levando a que quem chegava a Coimbra, por aquelas alturas, ficasse "maravilhado", imaginando uma performance natalícia à volta de um escadote. Muitas serão as fotografias por esse mundo fora do icónico escadote conimbricense, plantado num dos seus espaço mais imagéticos.

Mas chegámos a 2010 e nova surpresa estava guardada. Como é curial nas iluminações natalícias há uma temática habitual em que as figuras do Presépio assumem um papel central, delas partindo rastos de luz e desenhos com figuras estereotipadas, para iluminar as ruas mais comerciais.

Pois bem, este ano em Coimbra temos uma situação divertida. No Largo da Portagem, local donde  emanam  as iluminações de Natal para a Baixa da Cidade, o elemento central é, nem mais nem menos, a estátua de Joaquim António de Aguiar. Como se pode ver Joaquim António de Aguiar aparece no seu pedestal como pináculo de uma abóbada que os efeitos natalícios elegem como elemento de referência. 


É uma "homenagem" a um filho da terra pensarão alguns, particularmente os visitantes. Na verdade, Joaquim António de Aguiar é um filho ilustre de Coimbra, que desempenhou relevantes funções públicas a nível nacional. O curioso é que por força  da sua acção política acabou por ficar conhecido no país como o Mata-Frades. 

Como se constata há coisas que, verdadeiramente, só acontecem aqui. O Mata-Frades é o "rei" do Natal conimbricense!

Claro que para o ano, por esta altura, haverá decerto, por aqui, outras curiosidades. É muito provável, por exemplo, que já exista Secretariado da Federação de Coimbra do PS, que o novo Hospital Pediátrico já tenha sido inaugurado e até que ainda exista a Sociedade Metro Mondego, com o respectivo conselho de administração a enviar postais de Boas Festas e a gerir os autocarros que transportam os presuntivos utentes dum metropolitano que não existe e que nunca mais irá existir. 

E até há quem acredite que, nessa altura, o PS - partido que apoia o governo - ainda peça a demissão do Secretário-de-Estado dos Transportes, contra a vontade do presidente da Câmara, importante membro do principal partido da oposição ao governo, que não quer dar para esse peditório. Vejam lá como são as coisas...

Não se esqueçam meus amigos, Coimbra é uma cidade surpreendente. Há coisas que só acontecem aqui...

domingo, 5 de dezembro de 2010

A ARTE DA PRUDÊNCIA - 77

Saber adaptar-se a todos.

Ser um discreto Proteu: douto com o douto e santo com o santo. É a grande arte de a todos conquistar, porque a semelhança atrai a simpatia. Observar o carácter e adaptar-se ao de cada um. Ao sério e ao jovial seguir-lhes a corrente, transformando-se delicadamente. É necessário àqueles que dependem de outros. Esta grande destreza para viver exige uma grande capacidade. É menos difícil para o homem de muita cultura e de gosto amplo e agradável.

A Arte da Prudência
Baltasar Gracián

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

YOUKALI

Por muitas razões, este é um bom dia para ouvir Ute Lamper cantar Kurt Weill e, particularmente, aquele belíssimo tema, com letra de Roger Fernay: Youkali - uma ilha especial e encantada.

Youkali

É quase no fim do mundo
Que meu barco errante
Vagueando pelas ondas
Me conduziu um dia
A ilha é pequena
Mas a fada que lá vive
Gentilmente nos convida
A um passeio por ali

Youkali
A terra dos desejos
Youkali
A alegria, o prazer
Youkali
É o lugar onde esquecemos os problemas
É em nossa noite como uma fresta de luz
A estrela que seguimos
É Youkali

Youkali
É a honra dos juramentos perdidos
Youkali
A terra do amor correspondido
É a esperança
Que há em todo coração humano
A libertação do que esperamos para o amanhã

Youkali
A terra de nossos desejos
Youkali
É alegria, é prazer
Mas é um sonho, uma insensatez
Não há
Youkali

DIA DE NATAL


Fez há dias anos que nasceu Rómulo de Carvalho - 24 de Novembro de 1906. António Gedeão nasceu mais tarde e morreu mais cedo.  Relembrando-os e porque o Natal se aproxima, aqui fica de António Gedeão:

Dia de Natal

Hoje é dia de ser bom.
É dia de passar a mão pelo rosto das crianças,
de falar e de ouvir com mavioso tom,
de abraçar toda a gente e de oferecer lembranças.

É dia de pensar nos outros - coitadinhos - nos que padecem,
de lhes darmos coragem para poderem continuar a aceitar
a sua miséria, de perdoar aos nossos inimigos, mesmo aos
que não merecem,
de meditar sobre a nossa existência, tão efémera e tão séria.
Comove tanta fraternidade universal.
É só abrir o rádio e logo um coro de anjos,
como se de anjos fosse,
numa toada doce, de violas e banjos,
entoa gravemente um hino ao Criador.
E mal se extinguem os clamores plangentes,
a voz do locutor
anuncia o melhor dos detergentes.

De novo a melopeia inuda a Terra e o Céu
e as vozes crescem num fervor patético.
(Vossa Excelência verificou a hora exacta em que o Menino
Jesusu nasceu?
Não seja estúpido! Compre imediatamente um relógio de
pulso antimagnético.)

Torna-se difícil caminhar nas preciosas ruas.
Toda a gente se acotovela, se multiplica em gestos,
esfuziante.
Todos participam nas alegrias dos outros como se fossem
suas
e fazem adeuses enluvados aos bons amigos que passam
mais distante.
Nas lojas, na luxúria das montras e dos escaparates,
com subtis requintes de bom gosto e de engenhosa dinâmica,
cintilam, sob o intenso fluxo de milhares de quilovates,
as belas coisas inúteis de plástico, de metal, de vidro e de
cerâmica.

Os olhos acorrem, num alvoroço liquefeito,
ao chamamento voluptuoso dos brilhos e das cores.
É como se tudo aquilo nos dissesse directamente respeito,
como se o Céu olhasse para nós e nos cobrisse de bênçãos
e favores.
A oratória de Bach embruxa a atmosfera do arruamento.
Advinha-se uma roupagem diáfana a desembrulhar-se no ar.
E a gente, mesmo sem querer, entra no estabelecimento
e compra - louvado seja o Senhor! - o que nunca tinha
pensado comprar.

Mas a maior felicidade é a da gente pequena.
Naquela véspera santa
a sua comoção é tanta, tanta, tanta,
que nem dorme serena.
Cada menino
abre um olhinho
na noite incerta
para ver se a aurora
já está desperta.
De manhãzinha
salta da cama,
corre à cozinha
mesmo em pijama,
Ah! ! ! ! ! ! ! ! ! !
Na branda macieza
 da matutina luz
aguarda-o a surpresa
do Menino Jesus.

Jesus,
o doce Jesus,
o mesmo que nasceu na manjedoura,
veio pôr no sapatinho
do Pedrinho
uma metralhadora.
Que alegria
reinou naquela casa em todo o santo dia!
O Pedrinho, estrategicamente escondido atrás das portas
fuzilava tudo com desvastadoras rajadas
e obrigava as criadas
a caírem no chão como se fossem mortas:
tá. tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá.
Já está!
E fazia-as erguer para de novo matá-las.
E até mesmo a mamã e o sisudo papá
fingiam
que caiam
crivados de Balas.

Dia de Confraternização Universal,
dia de Amor, de Paz, de Felicidade,
de Sonhos e Venturas.
É dia de Natal.
Paz na Terra aos Homens de Boa Vontade.
Glória a Deus nas Alturas.

António Gedeão, Máquina de Fogo (1961)

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

A ARTE DA PRUDÊNCIA - 76



Não estar sempre na chacota.

A prudência reconhece-se pela seriedade, que tem maior crédito que o talento. Aquele que está sempre na chacota não é deveras um homem. Comparamos estes aos mentirosos por não acreditarmos neles; a uns por receios de mentira, aos outros da sua chacota. Nunca se sabe quando falam com tino, o que é o mesmo que não o ter. Não há maior desaire que o chiste contínuo. Outros adquirem fama de engraçados e percem o crédito de prudentes. A jovialidade deve ter o seu momento, e a seriedade todos os demais.

A Arte da Prudência
Baltasar Grácian

sábado, 27 de novembro de 2010

VENCIDO E EM FUGA


O presidente da Câmara de Coimbra, Dr. Carlos Encarnação, dá hoje uma entrevista ao Diário as Beiras, em que se apresenta, de uma forma clara, como um presidente vencido e em fuga.

Num tom de lamúria, assume a desresponsabilização pela absoluta falta de visão, de ideias e de projectos, culpabilizando terceiros pela vacuidade da sua capacidade de expressão política, assumindo o único mérito de vir a deixar, no fim de três mandatos, algumas obras idealizadas por outros.

É difícil encontrar num presidente de Câmara deste país um discurso tão fraco e deprimido, para mais quando ainda não chegou a meio do mandato.

Até chega a ser patética a resposta que dá, na conclusão da entrevista, sobre a sua decisão de nomear e manter como director municipal o presidente da Académica, por três anos e não dois como refere, sabendo como feriu, com a sua decisão e as suas omissões sobre o assunto, a honra e dignidade da Câmara e obviamente de Coimbra, apesar de todos os alertas que lhe foram pública e expressamente feitos.

Percebe-se hoje, melhor do que nunca, que o Dr. Carlos Encarnação não está a fazer nada na Câmara de Coimbra e que a todo o momento, caso apanhe um simples constipação, deixará o cargo, até porque o PSD não tem moral para lhe pedir mais nada, mesmo que lhe forneça um anti-gripal...

O problema é que os munícipes de Coimbra o elegeram para um mandato de quatro anos e por isso têm toda a moral para lhe exigir que o cumpra e que não se entretenha a preparar uma fuga airosa.

A derrota interior do Dr. Carlos Encarnação foi-nos apresentada hoje, em letra de forma, e a fuga vai ser trazida daqui a algum tempo com base numa mistificação.

A herança que vai deixar à cidade é muito pesada, sobretudo porque deixará um rasto de destruição de valores e de procedimentos éticos que eram um dos grandes patrimónios da sua Câmara.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

ERA PRECISO QUE O PS SE LEVANTASSE DO CHÃO...


Não é possível invocar James Joyce e o seu Ulisses para perceber o que se passa na Irlanda, mas que há ciclopes da ignorância que andaram anos a fio a matraquear-nos sobre os méritos do modelo de desenvolvimento irlandês e, inclusivamente, a elogiar a campanha anti-Europa conduzida e financiada por um especulador financeiro, que mais não era que um cavalo de Tróia de interesses americanos, isso é possível relembrar.

Mas também é possível reconhecer o desplante e o despudor de muitos desses - bem pensantes  e bem  informados políticos, economistas e fazedores de opinião - que hoje aparecem a referir a inconsistência do seu anteriormente tão apregoado modelo e a criticar o sistema bancário que por ali garantia níveis de vida artificiais utilizando produtos tóxicos.

Diziam, na altura: "Abençoada Irlanda - um verdadeiro tigre europeu - que não investe em auto-estradas ou infraestruturas físicas, mas que garante incomparáveis padrões de desenvolvimento.".

Ouvimo-los, vezes sem conta, atirarem-nos com este panegírico, também ele tóxico, assim como os vamos ouvindo agora transformar a Irlanda num Caronte que nos transporta na sua barca rumo aos infernos.

Nem nós nem a Irlanda merecemos tão "inteligentes" comentadores e analistas, mas muito menos tão abalizados economistas a quem não seria possível entregar a gestão de uma simples mercearia porque a levariam rapidamente à falência.

Aliás, neste momento não só nos preparamos para financiar a Irlanda, melhor dito, e com raiva, os bancos irlandeses e decerto o famoso especulador que pagou campanhas contra a Europa, como vamos ter de pagar por muitos anos juros extremamente elevados, por insondáveis efeitos de contágio, que não penalizarão os especuladores e os senhores dos mercados mas sim aqueles que ainda conseguem ter trabalho.

Ah, os famosos e sapientes economistas e comentadores continuarão com o seu habitual exercício de "superior" inteligência e a sua expertise- de esperteza -, a dizer-nos porque é que temos de pagar a crise, ainda que a maioria deles ganhe com ela pelos artigos que escreve e as análises que doutamente apresenta. 

Só é pena, uma dolorosa pena, que muitos políticos se deixem embrulhar por estes "estudiosos" e não abordem a política com uma atitude prospectiva e uma visão superior, demonstrando alguma capacidade de enfrentar e condicionar o poder económico. Digo alguma capacidade, sublinhando a palavra alguma.

É que está claramente visto que, perante a incapacidade política global, reinante na Europa, vão ser os tecno-economistas que colocaram o trevo irlandês nos píncaros e que agora  lhe arrancam as folhas  que tudo farão para nos importar as desgraças irlandesas.

Dizem e com razão, que a crise é de origem financeira,  mas é também e fundamentalmente uma crise política em que são visíveis o medo e a cobardia dos líderes políticos perante os senhores da finança e em que não se percebe o silêncio dos partidos políticos, concretamente o PS que não dá sinais de uma qualquer capacidade de expressão política perante a gravidade dos factos e as suas consequências por décadas.

Era preciso que o PS se levantasse do chão a que foi atirado e que no mínimo reagisse com a convicção das ideias que estão no seu ideário e na génese.

É que é óbvio o ruir de parte importante do Estado Social que tantos anos levou a construir e é dramático assistir a essa destruição perante a impotência política e a incapacidade de mobilização ideológica.

Possivelmente haverá por aí quem comemore bebendo um bom uísque irlandês. Só espero que não segure o copo com a mão esquerda.

sábado, 13 de novembro de 2010

A ARTE DA PRUDÊNCIA - 75


Escolher um modelo nobre, mais para o superar do que para o imitar.

Há exemplos de grandeza e textos abrilhantados pela reputação. Proponha-se como modelo, cada um na sua ocupação, aos de maior mérito, não tanto para os seguir mas para os ultrapassar. Alexandre chorou, não por Aquiles sepultado, mas por si antes de alcançar a fama. Nada excita mais as ambições na vontade que o clarim da fama alheia. O mesmo que abate a inveja alenta a nobreza.

A Arte da Prudência
Baltasar Gracián

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

POR AMOR DAS CIDADES


Apesar de já ter uns anos (1997) a obra "Por Amor das Cidades - Conversas com Jean Lebrun" de Jacques Le Goff, merece a pena ser revisitada.

Para aguçar o apetite transcrevo o começo da "Conclusão o fim da cidade ou a cidade sem fim.":

"Baudelaire disse: "A forma de uma cidade muda mais depressa, infelizmente, do que o coração de um mortal." No entanto, a continuidade está marcada em certas formas. A Idade Média deu à cidade, ou à maioria das cidades, um espaço rodeado de muralhas cuja traça subsiste mesmo depois dos muros terem desaparecido. Por outro lado, mantém-se a mesma disposição entre uma cidade propriamente dita, o que na Idade Média se chamava cité, e os burgos que se tornaram a seguir os chamados faubourgs; portanto, a articulação centro da cidade-bairros-suburbúbio. A função política, para a cidade de hoje, reveste mais importância do que na Idade Média. À época, a cidade como centro de poder não exerceu o domínio que seria de esperar. Frequentemente, o poder situava-se num lugar mais ou menos dissociado da cidade, o palácio, o castelo, um pouco afastado. Paris só se impôs com a Revolução francesa. E o mesmo se pode dizer de outros países que não a França, onde o estatuto das capitais só tardiamente se cristalizou. O papel de centro monetário financeiro que entenda-se, se afirmará com o capitalismo, surge na Idade Média e prossegue. A cidade é sempre o lugar de reunião e de irradiação dos peritos em leis. Também lá se encontram os poderosos e os dotados de inteligência e de cultura: é sabido que a riqueza não é o único critério de poderio urbano. Contudo, uma grande parte destas funções, desta imagem, é hoje posta em causa, tal como antes era posta em causa a função de produção artesanal e depois industrial da cidade.

Considere o papel festivo da cidade, que deveria manter-se parte integrante da sua função cultural. Acabo de receber a lista dos festivais de música da Primavera-Verão 1997, quase todos se realizam em quintas, em antigos conventos mais ou menos isolados, afastaram-se da cidade. A festa sai da cidade, da grande cidade, sobretudo. Quase diria o mesmo quanto à educação. Permanece ainda, em grande parte, nas cidades, mas muitas instituições situam-se fora.

Neste aspecto, os Estados Unidos deram-nos o exemplo de todas essas falsas cidades que não passam de campus com pouca coisa em redor. Princeton não é verdadeiramente uma cidade. Onde se constrói aeroportos e estádios, não é fora das cidades? Muitas vezes, precisamente onde os estudantes da Idade Média se permitiriam fazer piqueniques..."

sábado, 6 de novembro de 2010

A JUSTIÇA DE PASSOS


Este fim de semana, mais do que as condições meteorológicas, há dúvidas que nos vão atormentar e moer o bestunto: a responsabilização civil e criminal, preconizada por Pedro Passos Coelho, para os responsáveis políticos que não cumpram as suas promessas nem respeitem os orçamentos, é para valer a partir de quando? Tem efeitos retroactivos? Como é que se pode desencadear o processo?

Mais, esse princípio do julgamento judicial por decisões políticas, para além do Governo também é aplicável ao Presidente da República, aos Presidentes dos Governos Regionais e aos Presidentes de Câmara?

Estou ansioso por chegar a segunda-feira com informação mais detalhada. Se entretanto alguém tiver mais informações agradeço que me diga, gostava de avançar com uns processozitos, ao abrigo da "justiça do Passos". 




sexta-feira, 5 de novembro de 2010

MINHOCA POLÍTICA


Confesso que é tudo muito difícil de entender na minha cidade. É sobretudo difícil entender o silêncio. Primeiro o silêncio dos que pensam e sabem mas que não querem dizer - medo? Depois o silêncio dos "faladores", o silêncio de todos aqueles que vão teorizando política e economicamente, que conhecem todos os segredos e todas as soluções e que conhecem todos os culpados, quando estes estão longe, é claro, mas que calam o que vai aqui por casa.

Vejamos alguns exemplos. Olhe-se para duas empresas municipais:  "Turismo de Coimbra" e "Águas de Coimbra". Reflicta-se sobre a génese da sua criação, os sábios argumentos que a sustentaram  e olhe-se para os resultados. Vejam-se os custos/beneficio para Coimbra que a sua criação e funcionamento implicam  e depois contabilizem-se os encargos já suportados, com os nossos impostos, em administrações, assessores, marketing, etc., etc., etc.

Um terceiro exemplo é o do "Metro Mondego". Quando se lê o valor do vencimento dos membros do Conselho de Administração e as viaturas que foram adquiridas para o seu serviço ficasse siderado e arrepiado.

Seja lá quem for, venham lá que argumentos vierem, há quem se sinta insultado nesta terra com estas coisas. Mais, há quem se sinta insultado com os comentários, as opiniões  e os superiores entendimentos sobre a situação económica do país de alguns dos protagonistas criadores e usufrutuários directos das benesses dadas "naquelas coisas".

Perante tudo isto seria pedagógico que, aqueles que criticam tudo o que se passa para lá da ponte, fossem capazes de explicar o seu silêncio sobre o que se passa intramuros.

Depois, porque há por aqui uma enorme hipocrisia e cobardia não se queixem  de que Coimbra seja vista como uma minhoca política.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

A ARTE DA PRUDÊNCIA - 74

Não ser intratável.

As verdadeiras feras estão nas cidades. Ser inacessível é vício dos que se desconhecem a si próprios, daqueles que, com as honrarias mudam os humores. Enfadar, por princípio, não é um caminho para a estima. É preciso ver um desses monstros intratáveis com a sua agressiva impertinência sempre pronta! Aqueles que, por desgraça, dependem deles, começam a falar-lhes como se estivessem a lidar com tigres, armados de pau e receio. Para subir de posto agradaram a todos, mas, uma vez conseguido, querem desforrar-se enfadando toda a gente. Pela sua ocupação devem relacionar-se com muita gente, mas, pela aspereza e arrogância, todos lhes fogem. Para estes, o melhor castigo é deixá-los estar, evitando prudentemente a convivência.

A Arte da Prudência
Baltasar Gracián

sábado, 30 de outubro de 2010

ORÇAMENTO


No meio de toda a novela orçamental lembrei-me daquela afirmação de um ministro das finanças francês  - Baron Louis - que o grande Machado de Assis utiliza no "Sermão do Capeta" : “Dai-me boa política e eu vos darei boas finanças.” e de que a seguir transcrevo uma pequena parte:

 "Já agora parece que estou em dia de fantasmas. Mal pingava o ponto final do outro parágrafo, quando me apareceu um senhor, que me disse ser defunto e haver-se chamado Barão Louis. 

- Conheço muito, disse-lhe eu: tenho ouvido a sua célebre máxima: “Dai-me boa política e eu vos darei boas finanças”.

 - Ah! meu caro senhor, acudiu o barão; essa máxima tem-me tirado o sono da eternidade. Já não a posso ouvir, sem tédio. Quer ajudar-me a publicar uma troca de palavras que fiz, mudando o sentido, a ver se pegam na segunda forma e deixa-me em descanso a primeira?
  
- Senhor barão…

- Escute-me. Em vez de “Dai-me boa política e eu vos darei boas finanças”, arranjei esta outra forma: “Dai-me boas finanças e eu vos darei boa política.” Promete-me?

- Pois não!

 - Não esqueça: “Dai-me boas finanças e eu vos darei boa política.”



sexta-feira, 29 de outubro de 2010

A CEGUERIA DA VIDEOVIGILÂNCIA


Desde o primeiro momento que tenho sido uma voz isolada na discordância com a instalação da videovigilância na Baixa de Coimbra.

Sempre entendi que a sua instalação era um erro em termos de custo/benefício e  que não só não iria resolver nenhum problema mas, bem pelo contrário, iria afastar as pessoas daquele espaço. É que a existência da videovigilância num contexto urbano de espaço aberto é só por isso um elemento indutor de medo e  provocador de esvaziamento humano.

Mais, comprometeria ainda mais a presença da polícia na Baixa, essa sim fundamental, já que levaria à necessidade de realizar um "policiamento de gabinete", com um polícia olheiro, retirado do terreno, a  "vigiar" pacatos cidadãos ou  o vazio, instalado algures numa cadeira.

A dimensão dos problemas não justificava tal opção, mas a incapacidade  do governo da cidade de desenhar políticas adequadas aos problemas que a Baixa vem enfrentando levou à adopção duma modernidade perversa que mais não fez do que colocar um ferrete sobre um espaço que não necessitava de mais ataques mas de iniciativas que o "puxassem para cima" e o requalificassem sabiamente.

Agora vai-se percebendo que a videovigilância é um bluff e uma fuga aos verdadeiros problemas, com custos directos de manutenção que não são conhecidos mas com  enormes custos indirectos a nível de imagem  e, mais grave ainda, de depreciação económica de um espaço que, para sobreviver, necessitava, isso sim, de ser valorizado.

Câmara e Governo estiveram de mão dada num  disparate, como vem sendo provado e que será exuberantemente comprovado quando se conheceram os custos dum distante e ineficaz policiamento de gabinete.

A videovigilância na  Baixa de Coimbra representa uma total cegueira sobre os reais problemas da cidade e a ausência de uma inteligência criativa tão necessária à sua solução.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

A ARTE DA PRUDÊNCIA - 73


Saber usar evasivas.

É o recurso dos prudentes. Com a galanteria de um donaire conseguem sair do mais intrincado labirinto. Com um sorriso, airosamente, evita-se a mais difícil contenda. O maior dos grandes capitães baseava nisto a sua coragem. Mudar de assunto é uma astúcia cortês para dizer que não. Não há discrição maior que a de não se dar por achado.

A Arte da Prudência
Baltasar Gracián

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

SURPRESAS


A noticiada decisão do Governo, prevista no Orçamento do Estado  para 2011, de agrupar num a só unidade os Hospitais da Universidade de Coimbra, o Centro Hospitalar de Coimbra e o Centro Psiquiátrico de Coimbra, é uma surpresa.

A generalidade das reacções conhecidas de concordância, é uma outra surpresa.

Sendo uma decisão política de apregoada racionalidade não deixa de ser uma decisão tomada sob pressão, uma decisão preliminar e para já insuficientemente estruturada. Talvez, por isso mesmo, alguns dos concordantes não a encarem muito a sério e os não concordantes estejam remetidos ao silêncio.

A convicção de que esta decisão, inserida no contexto de uma reorganização da administração pública de  que resultarão benefícios operacionais e diminuição de custos ganhos tem, para já, tanto de bondoso como de ingénuo.

A história, a dimensão e a cultura organizacional e funcional dos estabelecimentos de saúde em causa vão trazer problemas de um âmbito e de uma especificidade que se vão tornar num calvário para gestores e políticos.

Para mais há toda uma imensidão de interesses - muitos deles obviamente legítimos e compreensíveis - que ou me engano muito ou vão determinar no curto e médio prazo mais gastos do que as economias de escala pretendidas.

Aliás, medidas deste tipo deveriam ser tomadas, para não acabarem num traumatizante  fracasso, num contexto de médio prazo, com adequado planeamento e não em tempo de crise económica e social.
 
Até acredito que esta poderia ser uma grande oportunidade para Coimbra na área da saúde mas, sinceramente, acho que vamos assistir a um ano de peripécias e de controvérsias que acabarão por se traduzir em desgaste e em prejuízo para a imagem da cidade.

É preciso aprender a rezar na era da técnica, como alguém escreveu. Eu vou ver se aprendo, para pedir que não nos provoquem mais descarrilamentos nem nos abram mais feridas

Já agora, por que é que esta estratégia de propalada racionalidade na área da saúde não é aplicada com igual ênfase no Porto e em Lisboa.  

Por que será?

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

A PARÁBOLA DO PALHAÇO


Ao ler as tristes peripécias que assolam o PS Coimbra, nesta fase pós-eleitoral, e a forma como certos mensageiros, ou melhor a sua imagem, nos ajuda a compreender  e a aceitar as suas mensagens, lembrei-me da "Parábola do Palhaço", da autoria do filósofo dinamarquês Soren Kierkegaard e que diz o seguinte: 

"Num circo acontece um incêndio. O palhaço sai a correr à procura de ajuda numa aldeia próxima. Oas habitantes da aldeia, ao ouvirem o palhaço a avisar do incêndio e a suplicar ajuda, pensam que se trata de uma brincadeira, ainda que o palhaço se esforce por conferir veracidade ao que diz. Os habitantes não acreditam que o circo esteja a ser consumido pelo fogo."

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

QUEM GANHOU OU PERDEU NO PS COIMBRA


Do resultado das eleições para a Federação de Coimbra do PS fica a dúvida se foi Mário Ruivo que ganhou ou Victor Baptista que perdeu. 

Poder-se-á dizer que é a mesma coisa, mas não é bem assim. 

É que haverá quem tenha votado em Mário Ruivo em desespero com a liderança (?) de Victor Baptista, que nos seus mandatos reduziu o PS Coimbra a uma sombra de si próprio,  especialmente naquilo que tem  de mais profundo: os seus ideais e os seus valores; tendo-o conduzido, por uma inqualificável prática política e uma absoluta ausência de visão e de estratégia, a um desgraçado caminho de difícil retorno.

Mário Ruivo vai, por isso, ter de provar que a sua eleição não é o resultado da rejeição do seu oponente, assim como vai ter de trabalhar muito para se impor e protagonizar uma efectiva mudança e um retorno aos valores e à prática política inerentes a um grande partido, que está acantonado num beco onde falta memória, qualidade e credibilidade política.

Mais ainda, Mário Ruivo vai ter muito que penar perante as rasteiras, os truques e as habilidades inerentes a um mau perder e a uma absoluta incapacidade de percepção de uma imagem de esgotamento e de  vacuidade política que por vezes chegou a roçar o risível.

Da tardia derrota de Victor Baptista só fica o amargo de boca de o ver arrastar na sua queda alguns militantes a quem o PS muito deve e que desta forma acabam por sofrer uma nova morte política.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

A ARTE DA PRUDÊNCIA - 72

Ser decidido.

É menos prejudicial a má execução que a falta de decisão. Não se corrompem tanto as matérias quando correm, como quando estagnadas. Há homens irresolutos que para tudo necessitam da motivação dos outros. Às vezes a origem não está tanto na perplexidade, pois são perspicazes, mas na inactividade. Objectar costuma ser engenhoso, mas mais o é encontrar saída para os contratempos. Outros há, de grande discernimento e determinação, que não se detêm perante nada. Nasceram para ocupações elevadas, porque a sua compreensão rápida facilita o acerto e a resolução. Encontram tudo feito:a um destes, depois de ter explicado um mundo, ainda lhe ficou tempo para outro. Quando estão afiançados do seu êxito aventuram-se com mais segurança.

A Arte da Prudência
Baltasar Gracián

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

O PRIMEIRO ACTO

 
Na tomada de posse como presidente da Direcção da Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários de Coimbra fiz a seguinte intervenção: 

"Permitam-me que, em nome da Direcção a que passo a presidir, comece por expressar o reconhecimento pelo trabalho dos membros dos órgãos sociais que hoje terminaram funções, na pessoa do Sr. Coronel Ribeiro de Almeida, do Sr. Dr. Fausto Garcia e do Sr. Hermínio Palmeira.

A sua generosidade e empenhamento em prol desta instituição são um exemplo que nos orientará na nossa acção.

Depois, quero saudar os sócios desta Instituição, que a continuam a ver como uma referência e a manterem-se fieis aos seus desígnios, e uma saudação muito especial aos sócios beneméritos, pelo contributo decisivo que dão à sua subsistência.

Também seria impossível não manifestar perante vós o profundo reconhecimento aos bombeiros voluntários que integram o Corpo de Bombeiros desta Associação, pela sua dedicação, disponibilidade, esforço e competência na defesa e salvaguarda diária de pessoas e bens. São o nosso orgulho e a nossa bandeira. São o grande pilar da causa humanitária que levou à constituição da Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários de Coimbra.

Ao seu Comando e na pessoa do Comandante Nobre uma saudação muito especial.

Não posso, finalmente, deixar de agradecer à comunicação social a forma como acompanha a vida desta instituição e tem dado a conhecer os seus problemas, os seus anseios e o seu trabalho quotidiano. Aos senhores jornalistas aqui presentes o nosso muito obrigado.

Sou um homem de sorte porque mais uma vez fui convidado para um desafio difícil. São os desafios difíceis que verdadeiramente merecem ser enfrentados. Depois de muitos anos de intensa actividade, quando estava “posto em sossego”, vieram o Sr. Coronel Ribeiro de Almeida e o Sr. Dr. Fausto Garcia convidar-me para assumir uma candidatura a este cargo, convite que veio a merecer a concordância e o apoio dos restantes membros dos órgãos sociais que agora terminam o seu mandato.

Fizeram-no não porque eu seja “o mágico” que vai resolver de uma assentada os problemas existentes, mas porque acreditam que sendo alguém que gosta de Coimbra e que tem um currículo de serviço público, será capaz de assumir um compromisso de futuro com os Voluntários de Coimbra, honrando o seu passado.

Eu, pela minha parte, “arrastei” para este desafio um conjunto de cidadãos, com diferentes competências técnicas e experiências profissionais, que têm em comum o amor a Coimbra. Sabem que apenas os esperam incómodos e preocupações mas aceitaram e por isso lhes estou imensamente grato.

Assim, está perante vós uma equipa, com uma enorme vontade de trabalhar e em que todos os seus membros afirmam solenemente pela sua honra que cumprirão com lealdade as funções para que foram eleitos.

Parafraseando Napoleão, direi que quando olhamos para estas paredes se sente que cento e vinte e um anos de história nos contemplam. E isso implica um enorme sentido de responsabilidade. Não é impunemente que se assume a Direcção desta instituição, para mais num contexto global de grandes dificuldades.

Mas os dados estão lançados. Não nos resta mais do que arregaçar as mangas e começar a trabalhar.

A grande questão, que nos últimos vinte anos tem estado no centro das atenções e motivado intervenções, como a protagonizada na Sessão Solene do Centenário, em Abril de 1989, pelo presidente da Assembleia Geral de então, Dr. Fausto Correia – um grande bombeiro voluntário de Coimbra –, é o quartel.

A questão do quartel tornou-se, aliás, numa típica questão coimbrã. Uma questão que se discute e para a qual se vão encontrando soluções que nunca acabam por acontecer. O tema do quartel dos voluntários de Coimbra daria uma boa história de aventuras do famoso Barão de Munchhausen com o título do “Quartel Voador”, dado que é um quartel que hoje fica aqui, amanhã vai para ali e no dia seguinte noutro sítio, no meio de múltiplas peripécias.

É portanto inevitável que a questão do quartel – apesar do problema central com que nos debatemos seja o da sustentabilidade institucional –, mereça da nossa parte uma atenção especial, sendo certo que não vamos procurar mais uma solução para o quartel, vamos, isso sim, encontrar a solução para o quartel.

Será a solução decorrente duma análise e de uma avaliação que queremos fazer com a colaboração dos sócios, dos cidadãos de Coimbra e das mais diversas instituições públicas e privadas, no contexto da definição de uma estratégia global, tendo, no entanto, como pressuposto que esta Direcção entende que a AHBVC e o Quartel dos Bombeiros Voluntários deve continuar na Baixa.

É que sair da Baixa é contribuir para a sua morte!

Aliás, sinto que há um apelo, vindo das ruas da Baixinha, de que não a abandonemos. Até o “Packard” – o pastor alemão que é mascote da Corporação e que parece sofrer do mal de nostalgia – já me terá tentado dizer que se o levarem daqui morrerá mais depressa.

Aliás, aconteceu que, por estes dias, estive a reler um breve escrito do filósofo francês Jacques Derrida sobre as “Cidades Refúgio”, tendo ficado com a convicção de que esta Associação e o Quartel dos Voluntários são uma “instituição refúgio” da cidade, cuja existência faz todo o sentido neste espaço urbano e que no dia em que daqui saísse deixaria um vazio e uma ferida irremediável.

Sabemos que há compromissos assumidos de boa fé, em nome de instituições de bem. Não os vamos deitar para o caixote nem desonerar os seus signatários, mas temos de pensar o futuro à luz da defesa dos superiores interesses da cidade e da AHBVC e é nesse quadro que vamos encontrar a solução mais adequada. É aqui que vamos projectar um quartel moderno e funcional, digno de uma cidade que se diz do conhecimento.

Vamos dar inicio à nossa actividade neste contexto de urgência relativamente ao quartel mas em que a primeira necessidade – peço-lhes que registem – é a de garantir a sustentabilidade da Associação e, por isso, não posso deixar de vos fazer um apelo a que nos ajudem.

Precisamos de mais sócios e precisamos de mais sócios beneméritos. Precisamos de apoios institucionais mas também de apoios individuais, porque só dessa forma poderemos garantir o indispensável nível de operacionalidade que nos permita actuar com rapidez e eficácia.

Coimbra é uma cidade especial e particular no que diz respeito aos riscos que enfrenta. O primeiro e não menor, é o da própria inconsciência colectiva relativamente às questões de segurança, dado que a generalidade dos seus cidadãos não se apercebe do tipo e dimensão de problemas que a cidade apresenta com a sua orografia, a sua riqueza monumental, o seu tecido urbano, os seus estabelecimentos universitários – com o imenso espólio de que dispõem – os seus estabelecimentos de saúde –, o seu Mondego, os seus 13.000 hectares de terrenos arborizados, etc., etc., etc.

Os cidadãos de Coimbra dormem descansados porque sabem que há quem vele por eles. Os Bombeiros Voluntários de Coimbra gostariam de estar descansados com a certeza de que os apoiam e os reconhecem como um pilar fundamental da estrutura de protecção civil que lhes garante segurança, tranquilidade e, consequentemente, qualidade de vida.

Há uma relação da cidade com os seus bombeiros voluntários que tem de ser rapidamente alterada. Pela nossa parte vamos melhorar o nosso processo de informação e de comunicação e vamos promover iniciativas de índole cultural, desportiva e recreativa que, aliás, fazem parte dos objectivos inscritos nos nossos Estatutos, de modo a conseguir uma maior visibilidade e um melhor conhecimento da nossa realidade.

Esperamos que a cidade, por seu lado, corresponda e nos ajude, porque aqui se trabalha voluntariamente “A Bem da Humanidade”.
"

VOLTAR NO OUTONO


Por inimagináveis razões técnicas acabei o Verão sem acesso à net e por isso estive silencioso.

Resolvido o problema volto no Outono. Talvez com menos tempo e mais cansado por novos afazeres, voluntários mas exigentes.

Mas sou um homem de sorte. Só me fazem desafios difíceis e eu vou aceitando por amor a Coimbra. Agora sou presidente da Direcção da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Coimbra.

A promessa é de que apesar de tudo continuarei a escrever e a dizer o que penso com total liberdade.





quinta-feira, 16 de setembro de 2010

A ARTE DA PRUDÊNCIA - 71

 Não ser diferente, de procedimento anómalo, nem por natural inclinação nem por gosto.

O homem prudente sempre foi o mesmo em todas as suas boas qualidades, e isto depõe a favor da sua inteligência. A sua mudança deve ser justificada por causas e méritos. Em matéria de prudência é feia a variação. Há quem seja diferente todos os dias; até o entendimento têm desigual, mais ainda a vontade e até a sorte: o que ontem foi o branco do seu sim hoje é o negro do seu não. Contradizem o seu próprio prestígio e confundem a opinião alheia.

A Arte da Prudência
Baltasar Gracián

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

POLÍTICA À MODA DE PILATOS


Estavam os cidadãos de Coimbra a aguardar a marcação de um prometido referendo local sobre a cobertura da Baixa, quando são surpreendidos com o anúncio de um outro referendo sobre a abertura dos hipermercados aos Domingos durante todo o dia.

É, sem dúvida, um "oportuno" anúncio sobre matéria relativamente à qual ainda não há Lei, o que reflecte uma enorme vontade de resolução do problema com a maior urgência possível. Só que, para além de ainda não haver Lei, o processo implica decisão da Assembleia Municipal e um conjunto de formalidades que vão delongar a questão. Portanto, o verdadeiro objectivo da Câmara não é o de ter uma decisão rápida sobre a questão, é sim a de fugir às suas responsabilidades, como lhe é típico.

Aliás, adivinha-se que todo este processo a concretizar-se - porque é bom ter presente que o outro também anunciado referendo nunca aconteceu -, vai ser motivo de adivinhadas peripécias, que acabarão por suscitar um enorme gozo local e um deprimente ridículo nacional.

O pobre vice-Presidente - arauto do referendo - que se prepare para o que aí vem porque o Presidente quando as coisas começarem a patinar lhe assacará todas as responsabilidades. Tenha-se presente que o ónus da "barraca" sobre a cobertura da Baixa e o inerente referendo recaiu sobre o vice-Presidente da altura e aqui por Coimbra, em política, a mesma água corre muitas vezes sobre a mesma ponte. É uma singularidade nossa.

Podem, para já, os pequenos comerciantes estar descansados, tendo contudo presente que quando foram aprovados os diversos hipermercados e centros comerciais não houve "necessidade" de qualquer referendo foi a Câmara que os aprovou sem remorso e os anunciou, inclusivamente, como o símbolo da modernidade.
 
Quem ainda acredite que na Praça 8 de Maio há alguma réstia de visão sobre o desenvolvimento da Cidade e de coragem política para defender causas fundamentais ao seu equilíbrio económico e social bem pode perder as esperanças, o que se pratica ali é invariavelmente um política à moda de Pilatos.

BOMBEIROS VOLUNTÁRIOS DE COIMBRA – ELEIÇÃO ORGÃOS SOCIAIS


RAZÕES DE UMA CANDIDATURA

No dia 23 de Setembro vai haver eleições para os Órgãos Sociais da Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários de Coimbra (AHBVC).

Correspondendo a um imperativo de consciência, entende um conjunto de sócios apresentar-se a sufrágio.

Têm como única motivação servir a AHBVC, honrar o seu passado e garantir o seu futuro, na prossecução dos seus objectivos estatutários.

Têm presente uma história de 120 anos de abnegado serviço voluntário na defesa e protecção de pessoas e bens, bem como no enriquecimento cultural e humano dos seus associados e estão convictos de que a AHBVC continua a ser um parceiro imprescindível na construção de uma Coimbra mais segura e solidária.

Sabem que a AHBVC faz parte do coração da Cidade e querem que ela continue a ser uma presença permanente e actuante no sentido de contribuir para a qualidade de vida no Município de Coimbra.

Têm consciência das muitas dificuldades com que a AHBVC se debate mas têm confiança. Confiança nos associados, na generalidade dos cidadãos que entendem os Bombeiros Voluntários de Coimbra como um património inestimável da Cidade e nas Instituições Públicas e Privadas que entendem como parceiros na construção do futuro.

Por tudo isto e num acto de pura solidariedade, candidatam-se, com convicção, para:

 "HONRAR O PASSADO. SERVIR O FUTURO."

O NOSSO PROGRAMA

Uma candidatura responsável mais do que um acto de vontade tem de ser um gesto de visão, uma afirmação de ambição e a assumpção de uma estratégia.

Dispensamos promessas e vamos, por isso, trabalhar no sentido de sistematizar os problemas e equacionar com realismo a sua solução, convictos da ajuda e da colaboração dos associados, dos cidadãos de boa vontade e dos parceiros institucionais.

Como linhas de actuação teremos em atenção os seguintes três eixos fundamentais:

I – Sustentabilidade Institucional.

Queremos garantir a sustentabilidade da AHBVC, reforçando a participação dos seus associados e fazendo sentir a sua mais valia no processo de desenvolvimento da qualidade de vida dos cidadãos.

II – Garantia de Operacionalidade do Corpo de Bombeiros.

Queremos garantir a operacionalidade do pilar fundamental que é o Corpo de Bombeiros, dotando-o dos meios materiais adequados e de meios humanos devidamente preparados.

III – Envolvimento e Participação na Vida da Cidade.

Queremos que a AHBVC seja parceira activa na vida da Cidade, quer na participação no contexto da Protecção Civil, quer como elemento dinâmico da sua vida social e cultural.

LISTA

ASSEMBLEIA GERAL

Presidente – Cor. Albano José Ribeiro de Almeida
Vice-Presidente – Dr. Mário Mendes Nunes
1.º Secretário – Sr. Luís Carlos Pinto
2.º Secretário – Dr.ª Suzana Maria Fernandes Redondo

DIRECÇÃO

Presidente – Dr. João António Faustino da Silva
Vice-Presidente – Eng.º António Arménio Vaz Serra Pacheco
Vice-Presidente – Sr. Maximino Godinho Morais
1.º Secretário – Sr. Aurelino Ferreira Martins
2.º Secretário – Sr. Abilino Lapa da Costa
Tesoureiro – Sr. José Carlos Lopes Queiroz
Tesoureiro Adjunto -  Sr. Carlos Jorge Correia Balteiro
1.º Vogal – Dr. António Carlos Tavares Pinheiro
2.º Vogal – Dr.º José Abreu Antunes Soares 
1.º Suplente – Eng.º Jorge António Bernardo
2.º Suplente – Dr. João Paulo Gaspar de Almeida e Sousa
3.º Suplente – Sr. António Duarte Cruz

CONSELHO FISCAL

Presidente – Dr. Fausto Lages Proença Garcia
Secretário – Dr. Carlos Manuel Fernandes Miranda Cruz
Relator – Dr. Alberto Carlos Morais Brás
1.º Suplente – Sr. Henrique Graça
2.º Suplente – Sr. Carlos Fernando da Cruz

A ARTE DA PRUDÊNCIA - 70


Saber negar.

Não se deve conceder tudo, nem a todos. É tão importante saber negar como saber conceder e nos que mandam é uma prudência necessária. E aqui intervém a fórmula: estima-se mais o não de alguns que o sim de outros, porque um não dourado, satisfaz mais que um seco sim. Há muita gente que tem sempre o não na boca, estragando sempre tudo. Neles o não vem sempre em primeiro lugar, e ainda que depois de tudo acabem por conceder, não se tem muito em conta devido ao desgosto inicial. Não se devem negar as coisas de chofre, pois é melhor uma decepção aos sorvos. Também não se deve negar de todo, pois suprimir-se-ia a dependência. É melhor que fiquem sempre uns restos de esperança para suavizar o amargo da negativa. A cortesia deve preencher o vazio do favor e as boas palavras suprimem a falta de obras. O não e o sim são fáceis de dizer e exigem muita reflexão.

A Arte da Prudência
Baltasar Gracián

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

A MORAL DO PROBLEMA


Dizia o presidente Carlos Encarnação, perante a situação de acumulação de um director municipal do urbanismo com a presidência de um clube de futebol, que não passava de um problema moral que só ao referido director cabia considerar.

Assim, apenas com a moral pelo meio, aconteceu a amoralidade de durante três anos a situação se ter arrastado e de a instituição Câmara de Coimbra se ver envolvida - como nunca tinha acontecido na sua história - num triste processo e num triste espectáculo que se desenrola publicamente nos bancos do Tribunal.

Claro que toda a gente sabia e sabe que o problema não era moral, era um problema político em que um presidente "qualificado" como grande político - porque se sabe safar seja à custa de quem e do que for - envolveu a instituição que governa a cidade, desqualificando-a e desprestigiando-a.  

A cada dia que passa e perante o que se vai sabendo mais se percebe a incompetência de um governo autárquico onde: "Simões aprovou o que Rebelo indeferiu", como noticiava um jornal e que significa que o director municipal se dava ao luxo de revogar a seu belo prazer alterar decisões do vereador. E quantas não terão sido?

Não haveria aqui, pelo menos, uma questãozita disciplinar?

Como se vai vendo o problema não era moral e o que se vai concluindo é que a moral do problema está no inqualificável comportamento político do presidente da Câmara.

O que não terá acontecido durante estes anos na Câmara de Coimbra!?

UMA DESCOBERTA SERÔDIA


É impossível não registar a descoberta serôdia, por parte de alguns militantes do PS Coimbra, da fragilidade política, para não dizer incapacidade, do actual líder distrital e candidato Victor Baptista.

"Mais vale tarde do que nunca" - diz o povo e diz bem -, mas que não se pode deixar de registar que em política o mérito está na previsão e na antecipação.

Há estragos de anos dificilmente reparáveis e quando sobre eles e o seu autor se alertou não restou mais do que o silêncio cúmplice.  

Também é verdade que o pragmatismo e a oportunidade são méritos políticos reconhecidos. 

O que é doloroso é ficar na dúvida sobre o que irão dizer amanhã, depois das eleições.

LA CÂMARA


Era uma Câmara
Muito engraçada
Não tinha presidente
Não tinha nada
Nem todos podiam entrar nela, não
Porque a Câmara tinha alçapão
Alguns podiam despachar mais cedo
Porque na Câmara havia segredo
Poucos sabiam o que se passava ali
Nem presidente nem vereador
Quem mandava ali era um director
Dizia o presidente em desespero
Mas era gerida com muito esmero
Na Praça 8 de Maio
Número zero

Nota: Adaptada de "La Casa" de Vinicius de Moraes e inspirada nos relatos de um julgamento que vai acontecendo na nossa cidade.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

A ARTE DA PRUDÊNCIA - 69


Não se entregar ao mau humor.

Um grande homem nunca se sujeita às variações anímicas. É uma lição de prudência a reflexão sobre si próprio, conhecer a sua verdadeira disposição, preveni-la e mesmo desviar-se até o outro extremo para encontrar o equilíbrio do bom-senso entre a natureza e a arte. Conhecer-se é começar a corrigir-se. Há monstros de impertinência que estão sempre de mau humor e os afectos variam com ele; eternamente arrastados por esta grosseira destemperança, aventuram-se de forma contraditória. E este excesso não só corrompe a vontade, como atinge o discernimento, e altera a vontade e o entendimento.

A Arte da Prudência
Baltasar Gracián

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

VIVAM AS CABRAS!


Soubemos, no pico do verão, que um exército de cabras - integrando um projecto luso-espanhol - vai começar a pastar terrenos da raia, desrespeitando o traçado fronteiriço que tanto custou a definir.

No seu pastar incansável, irão "limpar" terrenos abandonados, pastoreadas, decerto, por pastores bilingues  e com o leite será produzido queijo que, terá uma meia cura republicano/monárquica. 
 
A ideia parece meritória e representa um avanço no desenvolvimento do interior, que passará a ter um número muito superior de cabras per-capita relativamente ao sempre beneficiado litoral.  

Se a limpeza feita pelas cabras resultar e se o seu leite vier a ser rentável, deverá ser equacionada a sua utilização futura na "limpeza e preparação" das listas partidárias, sempre que haja eleições internas, o que poupará os lancinantes dramas a que, invariavelmente assistimos e que tão desprestigiantes se revelam. 

O problema é que deverá ser muito mais difícil um entendimento intra-partidário, sobre os militantes com direito a voto por causa das clientelas, do que  estabelecer o número de cabras num projecto internacional de pastorícia.

Vivam as cabras!

MÊS DE PROMESSAS


Agosto cumpriu. Houve calor, casamentos, nascimentos, luto, praia, festivais, incêndios, tolices políticas e a loucura das mortes em estúpidos acidentes de trânsito. Acabou trazendo-nos a rentrée futebolística e meia rentrée política.  Tudo normal, portanto.

Setembro é sempre um mês de promessas, de todas as promessas. 1 de Setembro é um bom dia para recomeçar a escrita.

Não é contudo possível recomeçar sem referir a morte de George David Weis, autor da fantástica canção - que é preciso ir ouvindo, na extraordinária voz de Louis Amstrong -, "What A Wonderful World".

 

quarta-feira, 28 de julho de 2010

A ARTE DA PRUDÊNCIA - 68


Fazer que compreendam.

É mais importante que fazer recordar. Algumas vezes é necessário recordar e outras aconselhar. Alguns deixam de fazer as coisas no momento mais conveniente, porque isso não lhes vem à ideia; nessa altura, a advertência de um amigo deve ajudar a ver a utilidade. Uma das maiores excelências da mente é lembrar-se com rapidez das coisas importantes. Por falta disto deixam de alcançar-se muitos sucessos. Ajude com prudência quem puder e peça ajuda, com discrição, quem dela necessite: basta uma insinuação. É necessária esta delicadeza quando afecta a quem desperta. Convém ter bom gosto e ir mais além quando não bastar. Como já se tem o não, busquemos o sim com destreza, que a maior parte das vezes não se consegue porque não se tenta.

A Arte da Prudência
Baltasar Gracián

quinta-feira, 22 de julho de 2010

PEDRO E O LOGRO


É enternecedor ouvir o Engenheiro Ângelo Correia referir-se, de forma paternalista, ao seu "protegido", como: o Pedro.

Assumindo-se como manager político de Pedro Passos Coelho teve o mérito de o conduzir à liderança do PSD, agora mais PL (Partido Liberal) do que PPD ou PSD.

Sucedendo a uma sisuda e desgastada ex-ministra, sem carisma nem fotogenia, o Pedro rapidamente fez sucesso e trepou nas sondagens. Animado com o facto e feliz com a "boa" imprensa, que de imediato o tornou primeiro-ministro, o Pedro, sentiu-se obrigado a lançar-se na grande política e, por isso, de acordo com a habitual cartilha, que diz que quando não há propostas para os problemas devem inventar-se problemas para as propostas, resolveu, depois de consultar o seu horóscopo, que lhe disse: "Boa altura para tomar uma decisão importante.", apresentar uma proposta de revisão constitucional.

Feliz com o cumprimento deste primeiro grande desígnio, resolveu consultar de novo o horóscopo  apara o dia e leu: "Dia radioso. O sol brilha trazendo-lhe o merecido êxito.".  No entanto a manhã tinha começado nublada e havia umas nuvens preocupantes. As notícias eram confusas, havia um coro de vozes, mesmo dentro do seu partido, a contestar a proposta de revisão constitucional e o Pedro começou a ficar desconfiado das previsões astrológicas.

Contudo, no dia seguinte, não resistiu a recorrer de novo ao conselho do astrólogo de confiança e ficou a saber que: "Apesar de muita controvérsia vai conseguir dominar os acontecimentos." Mais descansado preparou-se para as notícias. Não teve que esperar muito para perceber que de repente apoiantes  da véspera e comentadores deslumbrados de há dias zurziam, sem dó nem piedade, na sua proposta.

A confusão tinha-se instalado. Teve de se desdobrar em contactos, fazer recuos, descansar uns empedernidos social-democratas que ainda por lá andavam e afirmar que era uma proposta aberta para análise e discussão.

Veio novo raiar do dia e lá estava nova e animadora previsão astrológica: "Vai ter novas oportunidades e um período ascendente.". Um pouco menos crédulo recorreu aos seus assessores e ficou alarmado, havia sussurros depreciativos e temia-se uma queda nas sondagens, a pior desgraça que lhe podia acontecer. Enquanto esteve calado, passeando a imagem tudo bem, agora que queria começar a demonstrar que era um verdadeiro político via tudo a desmoronar-se.

O Pedro sentiu-se angustiado e começou a pensar se não seria muito ingénuo. Foi consultar o seu horóscopo para o novo dia e lá vinha: "Aprecie o bom momento que está a passar.". Num acto de incontida desconfiança atirou com o horóscopo para o caixote do lixo, afundou-se na cadeira e percebeu que ainda estava muito cru e que era um logro fazer política com base em oráculos. 

A ARTE DA PRUDÊNCIA - 67



Preferir as ocupações de reconhecido prestígio.

A maior parte das coisas depende da satisfação alheia. A estima é para as perfeições o que o Zéfiro é para as flores: alento e vida. Há empregos expostos à aclamação geral, e há outros, embora mais importantes; absolutamente invisíveis. Aqueles, por funcionarem à vista de todos, gozam da simpatia geral; estes, embora sejam excelentes e mais perfeitos, permanecem no segredo do imperceptível e são venerados, mas não aplaudidos. Entre os príncipes, os vitoriosos são os celebrados, e por isso os reis de Aragão foram tão aplaudidos como guerreiros, conquistadores e magnânimos. O grande homem preferirá os empregos céebres que todos entendam e conheçam de modo a ficar imortalizado com o sufrágio de todos.

Arte da Prudência
Baltasar Gracián

quarta-feira, 21 de julho de 2010

É VERÃO E TANTAS NOTÍCIAS


Hoje há um fervilhar de notícias que dão a ideia de como este país é único, multifacetado e moderno. Somos pequeninos mas temos de tudo. Há de tudo nesta Pátria portuguesa, "...a quem devemos sacrificar a nossa vida animal e transitória.", segundo Teixeira de Pascoaes, na sua Arte de Ser Português.

Apenas três excitantes exemplos. Temos a grande política com a proposta de revisão constitucional do PSD, a pretender consignar constitucionalmente as maldades do capitalismo neoliberal, no preciso momento em que as suas consequências perversas mais se fazem sentir,  sepultando algumas ténues ideias social-democratas e procurando utilizar este momento conturbado para preparar uma eventual chegada ao poder com o caminho aplainado para realização das políticas neoliberais defendidas pela sua actual direcção. 

A seguir podemos seguir as peripécias que envolvem a tourada que o CDS vai realizar nas Caldas - na cidade das Caldas e não no Largo do Caldas, note-se -, numa iniciativa em que se acredita não haverá  as "bandarilhas de esperança" de que nos fala José Carlos  Ary dos Santos na sua Tourada. Mas percebe-se que, na sequência da proposta de "coligação de governo" apresentada há dias por Paulo Portas, nada melhor do que avançar agora com uma tourada.

Também temos a notícia da prisão, pela Unidade de Combate Nacional ao Terrorismo da PJ, de um serial killer, o que dá uma dimensão espectacular ao evento e permite especular sobre o enquadramento e importância do criminoso. Enquanto nos Estados Unidos reina uma enorme confusão nos serviços de segurança, nomeadamente nos que têm por missão o combate ao terrorismo, nós por cá demonstramos a eficácia dos nossos serviços de segurança. 

Depois há uma notícia de política internacional, em que estamos envolvidos, que  coroa tão diversificadas notícias - a adesão à CPLP da Guiné Equatorial, um país de língua castelhana, com um regime ditatorial. Se não temos dado pela existência da CPLP o mesmo não acontece com o presidente Teodoro Obiang Nguema Mbasogo que a descobriu e a pretende enriquecer com os seus méritos políticos. Há, é bom ter presente que na Guiné Equatorial o português já passou a ser língua oficial e já se escreve petróleo ainda que se continue a utilizar o sinónimo castelhano oro negro.

O APRISIONAMENTO DA ESQUERDA


Na nossa vida partidária vive-se uma estranha situação que faz lembrar o "dilema do prisioneiro", um problema da Teoria dos Jogos - John Nash que me perdoe meter-me por estes caminhos -, em que cada jogador, de modo independente, tenta aumentar ao máximo a sua vantagem sem se importar com o resultado do outro.

Com efeito, olhando para a acção política dos partidos com assento na Assembleia da República, tem de se considerar, no mínimo estranho, que havendo uma maioria de esquerda ela se encontre "prisioneira" de uma direita minoritária, não por força desta mas porque cada um dos partidos de esquerda tenta aumentar ao máximo a sua vantagem sem se importar com o resultado do outro que se situa no mesmo espectro partidário.

Veja-se que o PS governa em minoria porque nenhum dos partidos de esquerda aceitou participar no governo, levando assim a uma situação de "soma nula" para a esquerda. Mas mais. Hoje considera-se que o governo só não cai porque a direita não quer, dado que há a certeza de que uma moção de censura do PSD colheria não só o apoio do CDS como a abstenção do PCP e do BE ou mesmo o seu apoio.

Isto é, a força parlamentar da direita resulta do "aprisionamento" da esquerda pela sua incapacidade de diálogo e de concertação resultante da convicção de que um entendimento seria prejudicial para as partes. Temos portanto aqui uma situação de "soma nula" à esquerda, em que cada um tenta aumentar a sua própria vantagem em detrimento não só do outro mas de uma política global de esquerda para o país.

Ver a esquerda prisioneira voluntária da direita, sabendo que não é possível perspectivar uma saída consentânea com o sentir da generalidade dos cidadãos expresso nas urnas, é qualquer coisa de doloroso e incompreensível.    

É uma realidade que tem tanto de "natural", para quem conhece a nossa história política partidária, como de bizarro e em que está patente uma situação de perturbante esquizofrenia que nem a mente brilhante de John Nash saberá resolver.

Será que, no nosso país, algum dia a esquerda se conseguirá libertar da direita, pondo fim ao "dilema do prisioneiro"? Quem souber que responda.